Um Resumo do que o
Cristianismo Faz para Aqueles que Creem no Evangelho
Vs. 4-9 – Paulo dá outro belo resumo do
que o Cristianismo faz pela pessoa que crê no evangelho. Ele diz: “Mas
quando apareceu a benignidade e caridade de Deus, nosso Salvador, para com os
homens, não pelas obras de justiça que houvéssemos
feito, mas, segundo a Sua misericórdia, nos salvou pela
lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, que abundantemente Ele derramou sobre nós por Jesus
Cristo nosso Salvador; para que, sendo justificados pela Sua graça, sejamos
feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna”. Como mencionado, o mundo deve ver no Cristão o que o
evangelho pode fazer por uma pessoa. Em suma, quando crido, o evangelho não
apenas livra uma pessoa do julgamento de seus pecados, mas também transforma
sua vida de ruim para boa e a torna uma pessoa verdadeiramente feliz por ter
sido trazida a um relacionamento vivo com Deus.
Paulo começa este resumo com a
intervenção da “bondade e amor de Deus” aparecendo “para com os homens”.
Isso se refere à vinda de Cristo para afastar o pecado pelo sacrifício de Si
mesmo (Hb 9:26). Sem isso, não poderia haver bênção para ninguém, pois a
questão do pecado tinha que ser resolvida primeiro. Paulo não entra nisso aqui,
nem fala de fé e obediência do crente ao evangelho que são necessárias para a
salvação. A razão é que ele está se concentrando nos benefícios positivos da
salvação que Deus dá aos que creem.
Ao enfatizar esse lado das coisas, Paulo
deixa claro que a salvação que Deus garantiu ao homem não é conquistada por
nenhum mérito do crente. Ele diz: “não pelas obras de justiça que
houvéssemos feito, mas, segundo a Sua misericórdia, nos salvou”. Assim, a “misericórdia”, “amor”
e “graça” de Deus que agiu para nos salvar não é algo que tivemos de trabalhar
para conseguir; “é dom de Deus” (Ef 2:4-5, 8). O crente, portanto, não
pode ter o crédito por sua salvação; “não vem das obras, para que ninguém se
glorie” (Ef 2:9; Rm 4:4-5).
Paulo então acrescenta: “pela lavagem
da regeneração e da renovação do Espírito Santo”. Isso se refere a um novo
estado moral formado pelo Espírito no crente. Isso se manifestará em uma
mudança externa em sua vida, e isso será algo que as pessoas verão. W. Scott
confirmou isso, afirmando: “A lavagem da regeneração pode ser discernida pelo olho
humano, pois é uma mudança externa” (Doctrinal Summaries, pág. 28).
Essa “lavagem” externa da vida de
alguém é ilustrada no batismo. O novo convertido deixa seus pertences (cigarros,
garrafas de bebidas alcoólicas, revistas mundanas etc.) na beira da água e
entra nela. Depois de ser batizado, ele segue seu caminho com os Cristãos que
participaram do batismo. Mas alguém o chama e diz: “Ei João, você esqueceu suas
coisas”. Ele responde: “Deixe-as lá; elas pertencem ao velho João”. Assim, o
efeito prático da lavagem da regeneração é que haverá uma separação moral (e,
portanto, uma limpeza) do antigo estilo de vida em que a pessoa outrora vivia.
As pessoas do mundo vão observá-lo e dizer: “Ele limpou sua vida; ele está agora
no caminho direito e estreito!” A “renovação” do Espírito Santo, “que
abundantemente Ele (Deus) derramou sobre nós”, é mencionada aqui
porque é o Espírito que energiza a nova vida e nos permite viver uma vida
divina de acordo com a vontade de Deus. A renovação do Espírito é uma obra
ainda em curso no crente, enquanto o Espírito derramado sobre nós é a
recepção permanente do Espírito ao crer no evangelho (Rm 5:5). F. B.
Hole disse: “Ele foi ‘derramado’ sobre nós em abundância. Assim concedido, Ele
energiza a nova vida que temos agora e trabalha uma renovação diária dentro de
nós, que realiza uma salvação contínua e crescente da vida antiga que uma vez vivemos”
(Epistles, vol. 2, pág. 190).
Paulo menciona “a lavagem da regeneração”
em conexão com ser “salvo”. Isso ocorre porque a mudança moral deve ser
parte integrante da salvação de uma pessoa; as duas coisas andam juntas. Deus
não pretende que creiamos no evangelho e, assim, sejamos libertados do
julgamento eterno de nossos pecados, para então continuarmos praticando os
mesmos pecados pelos quais Cristo morreu para deles nos libertar! Toda essa
conduta é hipocrisia e levanta uma questão sobre se essa pessoa foi realmente
salva. Paulo enfatiza esse lado das coisas para Tito porque ele precisava
insistir nisso em seu ministério em Creta, pois faltava muito disso entre os
santos de lá.
O único outro lugar na Escritura onde a
palavra “regeneração” ocorre é Mateus 19:28. Nessa passagem, refere-se à
nova ordem moral externa das coisas que será estabelecida na Terra quando
Cristo reinar em Seu reino milenar. Nesse dia vindouro, todos os homens viverão
de acordo com os santos padrões de Deus (Sl 101:7-8; Zc 5:1-4). Enquanto esse
dia ainda não chega, os Cristãos hoje devem manifestar a lavagem da regeneração
em sua vida.
Não obstante, os Cristãos de todas as
escolas de ensino teológico entenderam mal a regeneração. Eles acham que, como
a palavra “regenerar” significa recomeçar, está se referindo a nascer de novo
e, portanto, eles usam os termos de forma intercambiável. No entanto, J. N.
Darby disse: “Regeneração não é a mesma palavra que ‘nascer de novo’, nem é
usada dessa forma na Escritura” (nota de rodapé da sua tradução em Tito 3:5).
F. B. Hole disse: “Devemos notar que a palavra “regeneração” em nosso versículo
não é exatamente o equivalente ao novo nascimento” (Epistles, vol. 2, pág.
190). W. Scott disse: “Novo nascimento não é o mesmo que regeneração; o último
termo só ocorre duas vezes no Novo Testamento (Tt 3:5; Mt 19:28). O primeiro
termo refere-se a um trabalho interior; o último a uma mudança externa” (The
Young Christian, vol. 2, pág. 131). W. Scott também disse: “A regeneração é
quase universalmente considerada como equivalente ao novo nascimento, mas não é
assim na Escritura. A regeneração é uma condição ou estado objetivo,
enquanto o novo nascimento é a expressão de um estado interno e subjetivo”
(Bible Handbook – Old Testament, pág.
372).
Tanto novo nascimento quanto regeneração
se referem a um novo começo na vida de uma pessoa, mas são dois começos
diferentes. O novo nascimento, que ocorre primeiro na história de uma
pessoa, é um novo começo interior na alma ao receber uma nova vida de
Deus. Uma evidência disso será vista em sua busca por Deus. A regeneração
é um novo começo externo da vida de um crente, resultante de ele ter
sido salvo e ter recebido o Espírito Santo. Novo nascimento e regeneração
envolvem um “banho”, que significa lavagem ou limpeza. O banho envolvido
no novo nascimento significa uma lavagem interior da alma ao receber uma
nova vida limpa de Deus (Jo 13:10 – AIBB; 1 Co 6:11), enquanto o “banho”
na regeneração significa um lavagem externa da vida da pessoa em um
sentido prático (Tt 3:5 – nota de rodapé da tradução J. N. Darby[1]).
V. 7 – Paulo
passa da obra de Deus em nós para a obra de Deus para nós. Ele
diz: “sendo
justificados pela Sua graça, sejamos feitos herdeiros segundo a esperança da
vida eterna2”. Não poderíamos nos tornar herdeiros de Deus meramente pela obra do
Espírito em nós; também devemos ser justificados por Sua graça, pela qual somos
colocados em nossa plena posição Cristã diante de Deus “em Cristo” – que
é o que justificação faz (Gl 2:17). Assim, Deus nos salvou e nos justificou, e,
assim, fomos feitos “herdeiros” da herança – a qual abrange toda coisa
criada (Rm 8:17; 1 Co 3:22; Gl 4:7; Ef 1:11, 14). E não é só isso, temos a “esperança”
(uma certeza adiada) da vida eterna. Temos essa vida agora como uma possessão presente,
mas devemos esperar para ser levados para casa no céu para tê-la em nosso
estado glorificado, da qual Paulo fala aqui.
V. 8 – Ele
conclui com: “Fiel
é a palavra, e isto quero que deveras afirmes [insista vigorosamente – JND], para que os que creem em Deus
procurem [sejam cuidadosos em diligentemente – JND] aplicar-se às
boas obras; estas coisas são boas e proveitosas aos homens”. Assim, Tito deveria insistir no exercício prático da
verdade na vida dos santos em um caráter piedoso, e isso seria visto em suas “boas
obras”.
[1] N. do T.: “‘Lavagem’ está correto aqui. É um banho
ou a água para ele. ‘Regeneração’ não é a mesma palavra para ‘nascido de novo’
e nem é usada assim na Escritura. A força da palavra é de uma mudança de
posição; um novo estado de coisas. A palavra é apenas usada aqui e em
Mateus19:28 em relação ao reino vindouro do Salvador”.
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