quarta-feira, 2 de outubro de 2019

APÊNDICE

APÊNDICE

Todas as versões da Bíblia em português não fazem qualquer distinção entre o caráter presente e o futuro da vida eterna como o fazem as versões de J. N. Darby e William Kelly.
Na tradução de J. N. Darby os versículos que se referem ao caráter presente (que traduzem como eterna vida) são: Mt 19:16, 29, 25:46; Mc 10:30; Lc 10:25, 18:30; Jo 3:15, 16, 36, 4:36, 5:24, 39, 6:27, 40, 47, 54, 68, 10:28; 12:25, 50, 17:2; Rm 2:7; 1 Tm 1:16; 1 Jo 2:25.
A tradução de William Kelly ainda acrescenta à lista acima quatro versículos (1 Jo 3:15, 5:11, 13, 20) que se referem ao caráter presente da vida eterna.
Os versículos seguintes se referem ao caráter futuro (que traduzem como vida eterna): Mc 10:17; Lc 18:18; Jo 4:14, 17:3; At 13:46, 48; Rm 5:21, 6:22, 23, Gl 6:8; 1 Tm 6:12; Tt 1:2, 3:7; 1 Jo 1:2; Jd 21.

Conclusões


Conclusões

A carta cumpriu seu propósito? Filemom respondeu favoravelmente ao pedido de Paulo e perdoou o escravo que voltou? A Escritura não dá a resposta. No entanto, é difícil imaginar que um pedido feito com um amor tão delicado e terno e uma graça diplomática teria sido recusado por Filemom. O amor nunca falha (1 Co 13:8). A eternidade nos dirá o resto da história.

Os Elementos do Evangelho da Graça de Deus São Ilustrados na História de Onésimo


Os Elementos do Evangelho da Graça de Deus São Ilustrados na História de Onésimo

F. B. Hole disse: “Não devemos deixar essa epístola sem perceber a maneira impressionante de como toda a história ilustra o que a mediação significa e envolve, ilustrando realmente a afirmação: ‘Porque um Deus, e um Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem’ (1 Tm 2:5). Deus é o único ofendido pelo pecado; homem, o ofensor; o Homem Cristo Jesus, o Mediador.
Podemos nos ver retratados em Onésimo e sua triste história. Éramos também ‘inúteis’. Injuriamos a Deus e, consequentemente, éramos Seus devedores, tendo em vista que não podíamos pagar. Também ‘nos afastamos’ d’Ele, pois o temíamos e desejávamos estar o mais longe possível de Sua presença. Nossa alienação foi fruto do nosso pecado.
A mediação de Paulo entre Filemom e Onésimo ilustra, embora apenas levemente, o que Cristo fez. Não podemos quase ouvir o bem-aventurado Salvador falando assim quando, na cruz, Ele levou a culpa de nossas iniquidades e tomou o julgamento que merecíamos? Não devemos bendizê-Lo para sempre em relação a tudo o que nos era devido por causa de nossos pecados, quando Ele disse a Deus: ‘Ponha isso na Minha conta’?
No entanto, existe essa diferença: embora Paulo tenha que escrever: ‘Eu retribuirei’, mas nosso Salvador ressuscitado não usa o tempo futuro. Sua palavra para nós no evangelho, como fruto de Sua morte e ressurreição, é: ‘Eu a paguei’. Ele foi entregue por nossas ofensas e ressuscitado para nossa justificação. Por isso, é que, justificados pela fé, temos paz com Deus. Nesse ponto, portanto, a ilustração fica muito aquém da realidade ilustrada.
Nossa ilustração também falha nisso, que Deus não precisa de persuasão ao pleno exercício da graça, como era necessário no caso de Filemom. Ele é a própria Fonte da graça. Ele, no entanto, precisa de uma base justa para demonstrar Sua graça, assim como Paulo forneceu a Filemom uma razão justa de graça ao assumir todas as responsabilidades de Onésimo. A mediação envolve a aceitação de tais responsabilidades, para que seja exercida plena e efetivamente, pois somente então a graça pode reinar por meio da justiça” (Epistles, vol. 2, págs. 194-195).

Saudações finais


Saudações Finais

Vs. 23-24 – A carta termina com breves saudações enviadas por alguns dos “cooperadores” de Paulo – um dos quais também foi cativo com Paulo (Epafras).
V. 25 – Sua última palavra a Filemom foi: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com o vosso espírito. Amém”. Essa foi uma observação importante de despedida, pois Filemom precisava ter um espírito correto ao lidar com toda a questão da qual Paulo lhe pedia.

Sua confiança em Filemom


Sua confiança em Filemom

Vs. 20-23 – Paulo encerra seu pedido afirmando sua absoluta confiança de que ouviria uma resposta favorável de Filemom. Ele diz: “Sim, irmão, eu me regozijarei de ti no Senhor: recreia as minhas entranhas no Senhor. Escrevi-te confiado na tua obediência, sabendo que ainda farás mais do que digo”. Ele usa a palavra “obediência” aqui, mas não como obediência a um comando apostólico, mas ao chamado de Filemom ao dever Cristão. Examinando a carta, podemos ver como tudo isso seria irresistível para Filemom – um homem caracterizado por amor e fé (v. 5). Se ele estivesse propenso a se endurecer, ela teria derretido seu coração. O efeito do apelo gracioso e amável de Paulo deve ter sido irresistível.
Paulo encerra seu humilde pedido com uma pequena solicitação adicional para que Filemom preparasse (“prepara-me”) um alojamento para ele, pois esperava ser libertado e pretendia ir a Colossos, onde aparentemente nunca tinha visitado antes (Cl 2:1). Ele diz a Filemom que ele estava contando com suas “orações” para que assim fosse feito (v. 22).

O Compromisso Assumido por Paulo


O Compromisso Assumido por Paulo

Vs. 17-19 – Paulo então faz um terceiro pedido a Filemom para receber Onésimo. “Assim pois, se me tens por companheiro, recebe-o como a mim mesmo. E, se te fez algum dano, ou te deve alguma coisa, põe isso à minha conta. Eu, Paulo, de minha própria mão o escrevi; eu o pagarei, para te não dizer que ainda mesmo a ti próprio a mim te deves”. Ser considerado amigo ou camarada é uma coisa boa, mas ser considerado como um “companheiro [parceiro – KJV], como Paulo acreditava que ele era para Filemom, é uma coisa ainda maior. É assim que ele pede a recepção de Onésimo. Ele não pede apenas que seja recebido meramente, mas que seja recebido como Filemom receberia o próprio apóstolo! Este foi realmente um pedido ousado. O que Filemom deve ter pensado?
Se houvesse alguma suspeita latente no coração de Filemom, Paulo se apressou em apagá-la, prometendo assumir todas as obrigações pendentes que pudessem ter ocorrido. Ele diz: “se te fez algum dano, ou te deve alguma coisa, põe isso à minha conta”. Ele não chama a ofensa de furto, mas se houvesse algo pendente da parte de Onésimo, Paulo se comprometeu de próprio punho, dizendo: “eu o pagarei”. Que espírito de graça Cristão! E que exemplo para os pacificadores! Podemos querer ajudar a curar uma ruptura pessoal que se desenvolveu entre os santos, e esse é um bom desejo, mas estamos dispostos a cobrir os custos que possam ter ocorrido?
Assim, vemos uma progressão na tríplice solicitação de Paulo de “receber” Onésimo. No versículo 12, ele pediu a Filemom para recebê-lo como um escravo arrependido que havia sido salvo. Então, no versículo 15, ele pede que ele seja recebido como um irmão amado. Mas agora no versículo 17, ele visa ainda mais alto e pede que seja recebido como o próprio apóstolo!
Como motivação adicional, Paulo acrescenta: “para te não dizer que ainda mesmo a ti próprio a mim te deves”. Ou seja, o que fosse que Paulo tivesse pedido a ele, na verdade, Filemom era devedor a Paulo – ele devia a si mesmo a Paulo. A maioria dos expositores diz que isso é uma referência ao fato de que Filemom havia sido salvo por meio de Paulo e, portanto, ele havia recebido algo que o dinheiro nunca poderia pagar.

Seu Pedido


Seu Pedido

Vs. 8-9 – Somente após uma introdução cuidadosa, terna e extensa é que Paulo prossegue com o propósito de sua carta. Mesmo assim, ele adia seu pedido para lembrar a Filemom de que ele não estava afirmando sua autoridade apostólica e impondo algo a ele nesta questão. Ele preferiu suplicar a Filemom em prol do amor, como sendo o servo idoso e prisioneiro do Senhor. Ele poderia muito bem, como apóstolo, ter dado uma ordem a Filemom, mas preferia ver aquilo que estava prestes a solicitar ser realizado pela graça e amor Cristãos. Assim, ele diz: “Pois bem, ainda que eu sinta plena liberdade em Cristo para te ordenar o que convém, prefiro, todavia, solicitar em nome do amor, sendo o que sou, Paulo, o velho e, agora, até prisioneiro de Cristo Jesus” (ARA). Ele contava com o amor fraterno trabalhando no coração de Filemom para responder a seu pedido, pois o amor é “um caminho ainda mais excelente” de lidar com questões e problemas entre os santos (1 Co 12:31). Ser um servo “velho” foi intencional para inspirar o respeito de Filemom, e ser um “prisioneiro” do Senhor inspiraria sua empatia.
Vs. 10-12 – Finalmente, Paulo chega ao seu ponto e faz seu pedido para o qual a carta foi redigida. Ele roga a Filemom em nome de Onésimo, que havia sido notavelmente salvo por meio de Paulo. Ele diz: “Peço-te por meu filho Onésimo, que gerei nas minhas prisões: o qual, noutro tempo, te foi inútil, mas, agora, a ti e a mim, muito útil; eu to tornei a enviar. E tu torna a recebê-lo como às minhas entranhas”. Ao chamar Onésimo de “meu filho”, Paulo indicou carinhosamente que Onésimo agora era um de seus convertidos – ele fora salvo por Paulo! Ele fala de Timóteo e Tito da mesma maneira (1 Tm 1:2; 2 Tm 2:1; Tt 1:4). Pedro fala de Marcos da mesma forma (1 Pe 5:13).
Acompanhando a fé de Onésimo em Cristo, houve uma transformação completa de seu caráter. Ele havia sido “inútil”, mas agora era “útil” no serviço do Senhor. Essa transformação foi uma prova clara de que ele realmente havia sido salvo. Com o argumento de que houve uma verdadeira conversão nesse homem, Paulo faz um pedido triplo a Filemom para “recebê-lo” (vs. 12, 15, 17). Ele gentilmente pressiona Filemom que, uma vez que o Senhor perdoou Onésimo e o recebeu, ele deveria fazer o mesmo. Paulo não pede sua liberdade, mas seu perdão. Acrescentando as palavras: “como às minhas entranhas”, ele expressou sua profunda afeição por esse novo converso.
Vs. 13-14 – Paulo continua explicando por que estava enviando Onésimo de volta a Filemom: “Eu bem o quisera conservar comigo, para que por ti me servisse nas prisões do evangelho; mas nada quis fazer sem o teu parecer, para que o teu benefício não fosse como por força, mas voluntário”. Onésimo se tornara útil para Paulo em seus trabalhos no evangelho, mas Paulo sabia que Onésimo pertencia a Filemom, e mantê-lo lá em Roma teria passado por cima dos direitos de Filemom. Ele, portanto, achava que essa questão de transgressão pessoal deveria ser resolvida antes que qualquer outra coisa fosse considerada. Onésimo deve ter concordado com isso porque estava disposto a voltar para Colossos e enfrentar seu mestre. Era uma distância considerável a percorrer – estava em outro continente! Sua vontade de voltar e consertar as coisas com Filemom era outro sinal de que ele era verdadeiramente um homem arrependido. Assim, Paulo não faria nada sem o consentimento de Filemom nesse assunto. A amabilidade e sabedoria que ele usa ao se dirigir a Filemom são instrutivas; fornecem-nos um padrão de graça Cristã ao lidar com assuntos interpessoais entre os santos.
Paulo não chegou ao ponto de pedir que Onésimo fosse colocado em liberdade para que pudesse retornar ao seu lado no serviço; ele deixou essa escolha inteiramente para Filemom. Ele não o pressionou de maneira alguma. Se Filemom pretendia enviar Onésimo de volta a Paulo, ele queria que esse “benefício” viesse de Filemom, e não fosse algo feito “por força”, porque havia sido ordenado pelo apóstolo.
Vs. 15-16 – Paulo acrescenta: “Porque bem pode ser que ele se tenha separado de ti por algum tempo, para que o retivesses [o recebas – ARA] para sempre, não já como servo [escravo]; antes, mais do que servo [escravo], como irmão amado, particularmente de mim e quanto mais de ti, assim na carne como no Senhor?” Ao sugerir que Onésimo talvez tenha partido “por algum tempo”, ele sugeriu que tudo havia sido ordenado nos caminhos providenciais de Deus e, portanto, tudo isso fazia parte do plano de Deus (Pv 16:33; Jr 10:23). O princípio por trás de tudo aqui é que, mesmo nas falhas e fracassos dos homens, Deus pode tirar o bem do mal. Ele pode usar essas falhas e fracassos para realizar Seu propósito na bênção dos homens (Sl 76:10).
Ele, portanto, pede a recepção de Onésimo com base no perdão fraterno, já que agora era “um irmão amado”. A breve perda de seu escravo estava sendo recompensada pelo ganho permanente de um irmão! Filemom se beneficiaria dessa obra da graça em Onésimo de duas maneiras: primeiro, “na carne” por ter seu servo de volta e, segundo, “no Senhor” por ter um irmão no Senhor.

Ação de Graças e Oração de Paulo


Ação de Graças e Oração de Paulo

Vs. 4-7 – Paulo agradeceu a Deus por Filemom e orou por ele regularmente (v. 4). Ele queria que ele soubesse que apreciava muito o “amor e a fé” que tinha “para com o Senhor Jesus, e para com todos os santos” (v. 5 – TB). Isso levou Filemom a ter “participação na fé” (v. 6 – JND). Ou seja, sendo um homem de recursos, ele ajudou na difusão da verdade apoiando monetariamente os servos do Senhor. Dessa maneira, ele foi um dos “participantes” na obra do Senhor (Fp 1:7). Com o amor e fé sendo “eficazes” na vida de Filemom, como Paulo observa, ele foi levado à realização de “todo o bem” nessas questões práticas (v. 6). Com isso em mente, Paulo acrescenta: “Tive grande gozo e consolação da tua caridade, porque por ti, ó irmão, as entranhas dos santos foram recreadas” (v. 7). Isso mostra que o amor e a fé de Filemom não foram direcionados apenas aos que estão na obra do Senhor, mas ele também não deixou de ajudar os santos que tinham necessidades. Aprendemos com isso que ele era um homem muito prático, e sua benevolência havia encontrado um meio para dar vazão a uma boa causa entre o povo do Senhor.
Vemos grande sabedoria no preâmbulo introdutório de Paulo aqui. Ele observa e elogia a bondade de Filemom antes de prosseguir com seu pedido, que segue nos versículos 8-21. Seu raciocínio diplomático é que, como Filemom costumava mostrar bondade com os santos, ele certamente ficaria feliz em mostrar mais uma ação de amor Cristão – da qual Paulo estava prestes a fazer um pedido.

A Saudação


A Saudação

Vs. 1-3 – Paulo começa chamando a si mesmo de “prisioneiro de Cristo Jesus” (ARA). Ele não se vê como prisioneiro de Nero, o imperador romano, mas como prisioneiro do Senhor (Ef 3:1, 4:1). Ao declarar isso, ele estava se submetendo ao que o Senhor havia permitido que lhe acontecesse ao ser levado em cativeiro. Ele reconheceu o que o Senhor lhe havia feito por Sua providência divina e estava feliz por ser Seu prisioneiro, já que era essa a vontade de Deus. A Igreja foi a beneficiária disso, pois foi durante seu cativeiro que ele foi inspirado a escrever as chamadas “epístolas da prisão” (Efésios, Filipenses, Colossenses), nas quais é divulgada a verdade do Mistério de Cristo e a Igreja.
Ele inclui “Timóteo” na saudação porque, embora endereçada a um indivíduo, a carta também tem a assembleia em vista e, quando é assim, tudo deve ser feito pela boca de duas ou três testemunhas (2 Co 13:1). Não é dito que Timóteo era prisioneiro como Paulo e Epafras eram (v. 23), mas ele estava lá com Paulo ministrando a ele, e assim seu nome é incluído.
A carta é endereçada a “Filemom”, que era “cooperador” no evangelho, e sua esposa “Ápia”. “Arquipo” também é mencionado e parece ter sido parte da família de Filemom; portanto, alguns expositores sugerem que ele poderia ser filho deles. Mas não temos como ter certeza disso; A Escritura não diz que ele era. Tudo o que sabemos dele é que ele tinha um dom para ministrar a Palavra, ao que Paulo o encorajou a buscar com diligência (Cl 4:17).
V. 3 – “Graça a vós e paz da parte de Deus nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo”. Como regra, ao escrever para as assembleias, o apóstolo os cumprimenta com “graça” e “paz”, mas quando escreve para indivíduos, ele acrescenta uma terceira coisa: “misericórdia”. Isso ocorre porque quando uma pessoa não se beneficia do suprimento de graça e paz que Deus concede a Seus filhos, e falha no caminho da fé, há misericórdia para ela, e assim pode ser restaurada. No entanto, quando se trata de responsabilidade corporativa, onde o testemunho público da assembleia está em vista, se ela falhar, que foi o que a Igreja fez, não há misericórdia. Assim, não há menção na Escritura do testemunho público da Igreja sendo restaurado depois que falhou; ela será posta de lado no julgamento quando os verdadeiros crentes forem chamados para o céu na vinda do Senhor (Rm 11:17-24; Ap 3:16). Como a misericórdia não está incluída aqui no versículo 3, como geralmente ocorre quando se dirige a indivíduos, entendemos que a assembleia também está em vista nesta carta, pois deveria ter interesse em como os problemas interpessoais em seu meio são resolvidos. J. N. Darby disse: “O apóstolo, ao enviar Onésimo de volta, se dirige a toda a assembleia. É por essa razão que temos aqui “graça” e “paz”, sem a adição de “misericórdia”, como quando apenas os indivíduos são dirigidos pelos apóstolos” (Synopsis of the Books of the Bible, edição Loizeaux, vol. 5, pág. 260).
Filemom precisaria desse suprimento de “graça” e “paz” para receber Onésimo adequadamente e falar com ele com um espírito correto, para que tudo fosse tratado com honra. Paulo menciona essas coisas antes mesmo de explicar a Filemom o propósito de ter escrito a carta.

A Escravidão Humana e o Cristianismo


A Escravidão Humana e o Cristianismo

O cenário e o contexto em que a epístola foi escrita é o da escravidão humana. Essa injustiça social sempre foi contrária aos pensamentos de Deus, mas Paulo não trata disso aqui porque o Cristianismo não é uma força para melhorar o mundo. O Cristianismo não reforma o mundo; ele chama as pessoas (crentes) para fora do mundo, por meio do evangelho e anuncia o julgamento de Deus que virá em breve. O Cristianismo, como encontrado nas epístolas do Novo Testamento, não tenta corrigir os males sociais do mundo. Estamos no mundo” (Jo 17:11), mas não somos do mundo” (Jo 17:14, 16). Como “peregrinos e forasteiros”, estamos apenas de passagem por essa cena em nosso caminho para o céu, onde está nossa cidadania (1 Pe 2:11; Fp 3:20). Como tal, deixamos os homens do mundo lutarem entre si em suas causas, e não temos nada a dizer sobre isso (Is 45:9). Se fôssemos do mundo, nos envolveríamos em seus assuntos (Jo 18:36).
Alguns podem perguntar: “Se a escravidão está errada, por que Paulo não clamou contra ela? Por que ele retornaria um escravo ao seu mestre que havia escapado daquela escravidão terrível?” Como afirmado, a resposta é que os Cristãos não são chamados a consertar o mundo. Nosso trabalho é apresentar Cristo ao mundo em nossos caminhos e modos, e pregar Cristo a toda criatura humana que pudermos para que elas sejam salvas (Cl 1:23). Se o Cristianismo fosse uma causa para mudar o mundo, esse certamente seria o lugar para Paulo falar disso. Mas ele não tem nada a dizer a Filemom sobre a escravidão. Ele não dá nenhuma orientação para libertar Onésimo de sua posição na vida. De fato, o ensinamento de Paulo sobre esse assunto é: “Cada um fique na vocação em que foi chamado. Foste chamado sendo servo? Não te dê cuidado; e, se ainda podes ser livre, aproveita a ocasião” (1 Co 7:20-21). Isso não significa que ele aprovou a escravidão, mas que essas coisas não são o foco do evangelho que ele foi enviado para pregar.

Três Consequências Negativas Que Resultam da Falta de Perdão


Três Consequências Negativas Que Resultam da Falta de Perdão

Nutrir um espírito implacável pode resultar em algumas consequências terríveis em nossa vida que nenhuma pessoa sóbria deseja:
Em primeiro lugar, magoamos a nós mesmos. Ao remoer sobre o erro e nos recusar a perdoar alguém, ficamos presos no passado. Tal ocupação apenas mantém viva a dor e nos torna miseráveis. Meditando sobre isso, mantemos a ferida aberta e não permitimos que ela se cure. Isso alimenta raiva, ressentimento e amargura em relação à pessoa que nos ofendeu. O Senhor alertou sobre isso em uma parábola em Mateus 18:23-35. Ele falou de um homem que foi muito perdoado por seu credor, mas quando foi libertado de sua dívida, ele não perdoou seu companheiro que lhe devia uma quantia insignificante. Quando seu senhor soube disso, ele ficou “indignado” e “o entregou aos atormentadores, até que ele pagasse tudo o que devia”. Isso não significa que alguém com um espírito implacável perde sua salvação e é enviado para uma eternidade perdida, mas que ele é entregue ao seu espírito amargo que o atormenta continuamente. Sempre que vê ou pensa na pessoa que o ofendeu, seu estômago se revira e sua amargura e ressentimento o atormentam. Isso continuará até que ele finalmente abra a mão e perdoe seu irmão de coração. Assim, mantendo um espírito implacável para com alguém, nos machucamos (Pv 8:36). George Washington Carver sabia disso e disse: “Nunca deixarei outro homem arruinar minha vida por me permitir odiá-lo”.
Em segundo lugar, abrimos a porta para Satanás trabalhar em nossa vida. Somos avisados para não dar oportunidade a Satanás (Ef 4:27), pois ele certamente atacará qualquer crente que puder e o desviará (1 Pe 5:8) – mas é exatamente isso que um espírito implacável faz. Paulo disse aos coríntios: “E a quem perdoardes alguma coisa também eu; porque, o que eu também perdoei, se é que tenho perdoado, por amor de vós o fiz na presença de Cristo; para que não sejamos vencidos por Satanás; porque não ignoramos os seus ardis” (2 Co 2:10-11). Ele sabia que os santos de Corinto precisavam perdoar o ofensor juntos, corporativamente (1 Co 5), porque se alguns deles o perdoassem e outros não, Satanás aproveitaria a situação e causaria estragos na assembleia, criando desunião. Paulo disse que seguiria o exemplo deles e perdoaria o homem quando eles o perdoassem. Embora esse seja um assunto corporativo, é o mesmo em nossa vida pessoal – não perdoar com sinceridade e verdade dará a Satanás uma oportunidade de destruir nossa vida Cristã.
Em terceiro lugar, trazemos o julgamento governamental de Deus sobre nós mesmos. O Senhor disse: “E, quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas. Mas, se vós não perdoardes, também vosso Pai, que está nos céus, vos não perdoará as vossas ofensas” (Mc 11:25-26). Deus não quer um espírito implacável em Seus filhos e Se comprometerá a eliminá-lo por meio da sabedoria de Seus caminhos disciplinares. Podemos ter certeza de que tudo o que Ele faz em nossa vida a esse respeito é sempre feito em amor e para o nosso bem (Hb 12:5-11). Ele pode nos permitir chegar a uma posição em que precisemos de Seu perdão governamental, porque erramos de alguma maneira (Tg 3:2), e Ele, por um tempo, não nos concederá Seu perdão. Assim, somos levados a sentir o mesmo espírito que temos contra os outros e seremos ensinados, por Sua disciplina, que estamos errados em como agimos com os outros. Não nos julgarmos a esse respeito é uma coisa séria; isso pode prejudicar nossa comunhão com Deus. Podemos começar a questionar a sabedoria de Seus caminhos conosco, e isso pode resultar em um colapso em nossa fé e confiança em Deus (Lc 22:32).

O Valor Prático da Epístola

O Valor Prático da Epístola

Como hoje a escravidão humana foi proibida em todos os países da Terra, podemos estar inclinados a pensar que essa epístola não tem relevância prática para nós. Podemos até nos perguntar por que ela está incluída no cânon da Escritura. No entanto, os mesmos elementos básicos envolvidos no problema que Paulo estava abordando ainda surgem hoje entre o povo de Deus. O conselho e a sabedoria que Paulo aplicou a essa situação pode ser tomado e aplicado às situações que possamos enfrentar. As circunstâncias serão diferentes, mas os princípios envolvidos são praticamente os mesmos.
Devido ao fato de os santos ainda terem a carne, os problemas podem surgir em nossos relacionamentos pessoais. Pessoas serão maltratadas, e ofensas serão acolhidas e resultarão em rupturas na comunhão dos santos. Como foi o caso aqui, na maioria dos problemas interpessoais haverá um ofensor e haverá uma parte ofendida; e muitas vezes, haverá alguém que atuará como um pacificador para tentar ajudar as duas partes a resolver o problema de uma maneira que honre o Senhor. Nesta situação, Onésimo era o ofensor, e Filemom e sua esposa (Ápia) eram a parte ofendida, e Paulo agia como o pacificador. Aprendemos com esse incidente que o ofensor precisa confessar seu erro (Lc 17:4), e aqueles a quem ele ofendeu precisam genuinamente perdoá-lo em seu coração (Mt 18:35). E o pacificador pode encorajá-los a fazê-lo genuinamente. Assim, somos instruídos nesta curta epístola a respeito de como a graça e o amor Cristãos resolvem problemas sociais que surgem entre os santos para a glória do Senhor e para o bem de todos os envolvidos.
J. N. Darby comentou: “A epístola serve mais para produzir esses sentimentos no leitor mais do que ser o objeto da explanação” (Synopsis of the Books of the Bible, edição Loizeaux, vol. 5, pág. 258). Assim, ao meditar no caminho que Paulo empreendeu para resolver o problema que eles estavam enfrentando, o Espírito de Deus gera em nós o mesmo espírito de amor e graça que encontraria um meio de se manifestar em nossos irmãos. Portanto, esta epístola é muito aplicável a nós hoje.
A primeira lição prática que aprendemos dessa situação é que as questões de ofensa pessoal entre irmãos devem ser resolvidas o mais rápido possível. Se as rupturas na comunhão dos santos forem deixadas sem solução, elas podem degradar e crescer, e outros podem ser contaminados, por se envolver na situação (Hb 12:15). O inimigo de nossa alma (Satanás) pode, e irá, usá-las para destruir uma assembleia.

O Ponto Relevante da Epístola - O Exercício do Perdão Pessoal


O Ponto Relevante da Epístola - O Exercício do Perdão Pessoal

Mesmo que os verbos “desculpar” e “perdoar” não sejam encontrados na epístola, eles estão implícitos. O perdão pessoal é claramente o assunto que o apóstolo tem diante de si. É extremamente elementar para a vida Cristã e de grande importância; se não for praticado, a saúde e o bem-estar da assembleia estarão ameaçados. Este é um assunto tão importante para Deus que Ele dedicou uma epístola inteira a ele!
O perdão pessoal ou fraternal é baseado no perdão eterno de Deus. Paulo disse: “Antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo” (Ef 4:32). Quando pensamos em quanto fomos perdoados e quanto custou a Deus nos perdoar, não devemos ter problemas em perdoar os outros. Onde estaríamos sem o perdão? Não estar disposto a perdoar alguém é impensável. Como mencionado, perdoar um ao outro é um dos elementos mais básicos da vida Cristã. É, de fato, uma das características do novo homem (Cl 3:13). Um Cristão que carece dessa graça evidencia que ele ou ela não amadureceu espiritualmente. Quando Pedro perguntou ao Senhor quantas vezes devemos perdoar nosso irmão, Ele respondeu: “Até setenta vezes sete” (Mt 18:22). Isso significa que nosso perdão deve ser infinito.

Um Testemunho do Poder de Deus no Evangelho


Um Testemunho do Poder de Deus no Evangelho

A epístola serve como testemunho do fato de que Deus pode salvar pessoas de seus pecados e transformar a vida deles. Foi a isso que Paulo se referiu quando disse: “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação” (Rm 1:16). Não precisamos ir além da história de Onésimo para ver isso. Ele é um exemplo brilhante de uma verdadeira conversão. Antes havia sido um inútil escravo que havia fugido, mas desde que acreditou no evangelho e passou da morte para a vida, houve uma transformação completa em sua vida. Ele havia sido um pecador, mas, atendendo ao chamado de Deus, tornou-se um santo – e sua vida mostrou isso. Nada pode explicar essa radical mudança para o bem que não seja a misericórdia soberana, o amor e a graça de Deus trabalhando nele (Ef 2:4-9). Os santos tessalonicenses também foram um exemplo desse poder. Quando eles creram no evangelho, houve uma mudança tão profunda neles que Paulo disse: “dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir o Deus vivo e verdadeiro; e esperar do céu a Seu Filho” (1 Ts 1:9-10).

A Ocasião da Epístola


A Ocasião da Epístola

Pelo conteúdo da epístola, não é difícil reunir as circunstâncias que levaram Paulo a escrever a carta. Filemom era um chefe de família rico em Colossos, que havia sido grandemente ajudado por Paulo – talvez tendo se convertido por meio dele (v. 19). Ao longo do tempo, o escravo de Filemom (Onésimo) fugiu, aparentemente tendo-o roubado (v. 18). Pela providência de Deus, o escravo fugitivo foi para Roma, onde conheceu Paulo e foi genuinamente convertido (v. 10). A vida de Onésimo foi completamente transformada pelo poder da graça de Deus e ele se tornou útil ao apóstolo em seu confinamento. No entanto, a questão de Filemom ter sido prejudicado ainda era relevante e, portanto, Paulo e Onésimo achavam que seria correto esclarecer a questão com ele antes que qualquer outra consideração pudesse ser cogitada. Como Paulo estava escrevendo sua epístola para a assembleia de Colossos na época, e Filemom morava naquela mesma cidade (na verdade, a assembleia se reunia em sua casa – v. 2), era o momento perfeito para enviar essa carta pastoral e, esperançosamente, ter esta matéria esclarecida de uma maneira divina.

A EPÍSTOLA DE PAULO A FILEMOM - INTRODUÇÃO


A EPÍSTOLA DE PAULO A FILEMOM

INTRODUÇÃO

Esta é uma das quatro epístolas “pastorais” (1 e 2 Timóteo, Tito e Filemom) escritas pelo apóstolo Paulo. Essas epístolas são chamadas de “pastorais” porque são dirigidas a indivíduos, e não a assembleias – cada uma com caráter de pastoreio e aconselhamento. Essa epístola, no entanto, é única entre as epístolas pastorais, na medida em que se refere a um assunto puramente privado entre dois indivíduos. Assim, ela possui um caráter distinto, demonstrando a graça e o amor Cristãos em ação em uma circunstância da vida real. A epístola não contém nenhuma declaração de doutrina; nem tem exortações gerais à vida Cristã; mas nos fornece um exemplo inspirador da graça e amabilidade Cristãs.
Foi escrita na época em que Paulo redigiu a epístola aos Colossenses e ambas foram levadas aos Colossenses por Tíquico e Onésimo (Cl 4:7-9).

Conclusões


Conclusões

Vs. 12-15 – Paulo encerra a epístola com algumas breves diretrizes sobre o trabalho. Ele planejava enviar “Ártemas” ou “Tíquico” para aliviar Tito em Creta, para que Tito pudesse estar livre para encontrá-lo em “Nicópolis” (oeste da Grécia). Parece, a partir de 2 Timóteo 4:12, que Tíquico foi enviado a Éfeso, e não a Creta, o que significa que provavelmente foi Ártemas quem foi a Creta (v. 12).
V. 13 – Aparentemente, “Zenas, doutor da lei, e Apolo”, deveriam visitar a ilha. Paulo incentivou Tito a ajudá-los “com diligência” (KJV) em seu ministério. Zenas era um doutor da lei judeu que havia sido convertido. Ele seria de grande ajuda para Tito, refutando o elemento judaizante que estava incomodando os santos ali. Zenas era perfeitamente adequado para lidar com suas disputas sobre os detalhes da Lei. Pode ser a razão pela qual ele e Apolo foram para lá.
V. 14 – Paulo faz uma última exortação sobre a necessidade de boas obras. Ele diz: “E os nossos aprendam também a aplicar-se às boas obras, nas coisas necessárias, para que não sejam infrutuosos”. Paulo insistiu em “boas obras” muitas vezes nesta epístola; sua importância não pode ser minimizada – especialmente na situação que existia em Creta. Os cretenses, outrora preguiçosos, deveriam ser diligentes em mudar sua imagem pública na ilha realizando boas obras; isso ajudaria a reverter o testemunho negativo que eles tinham lá. Paulo acrescenta: “nas coisas necessárias”. Isso mostra que os Cristãos podem ser encontrados realizando algum trabalho ou serviço na vida secular que não é realmente necessário para a vida na Terra. Como regra, nosso emprego secular deve ser em algo que não seja de um caráter duvidoso e questionável.
V. 15 – Sua saudação final mostra a necessidade de um amor genuíno ser expresso entre os santos – especialmente quando eles enfrentam a fria perseguição do mundo, que está por toda parte. Todos nós precisamos desse tipo de encorajamento.


A Responsabilidade do Cristão em Relação aos Mestres Falsos e Cismáticos


A Responsabilidade do Cristão em Relação aos Mestres Falsos e Cismáticos

Vs. 9-11 – Paulo sabia que afirmar a verdade, como havia ordenado que Tito fizesse, certamente encontraria resistência dos mestres judaizantes que estavam lá em Creta (cap. 1:10). Antecipando isso, ele deu a Tito alguns conselhos simples, mas importantes. Ele diz: Mas não entres em questões loucas, genealogias e contendas, e nos debates acerca da lei; porque são cousas inúteis e vãs. Os mestres judaizantes amam discutir questões religiosas relacionadas à Lei, mas Tito devia ter o cuidado de não se envolver nessas discussões. Ele deveria evitar tudo o que era de natureza controversa em seu ministério; isso apenas o estragaria.
Paulo supõe que poderia haver alguém que iria ficar tão ocupado com estas questões inúteis que iria se tornar o líder de um partido que se organizaria em torno dessa causa. Essa pessoa manifestaria um espírito divisivo e deveria ser evitada. Paulo alertou os santos romanos sobre isso: E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles. Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre: e com suaves palavras e lisonjas enganam os corações dos símplices [ingênuos – JND] (Rm 16:17-18). Nota: não é “noteis os que seguem em divisões”, mas aqueles que “promovem” divisões. Isso significa que devemos distinguir entre os líderes e os liderados quando um espírito de partido surge na assembleia. Se o líder do partido não se julgar, suas agitações levarão a uma divisão externa na assembleia, onde ele e seu partido se afastarão da comunhão dos santos e se reunirão em outros lugares. Ao causar uma separação externa, o homem provará ser um “herege”, que significa “um criador de uma seita”.
Muitos pensam que a heresia é sustentar ou propor má doutrina, provavelmente porque a maioria dos hereges sustentam má doutrina (2 Pe 2:1). Tornou-se convencionalmente aceito como tal na maioria dos círculos religiosos. No entanto, heresia realmente se refere à divisão dos santos. Sendo iludido, um herege acreditará que o que ele está fazendo é certo e bom e para a glória do Senhor – mas é claramente uma obra da carne (Gl 5:20). Uma “dissenção” é uma divisão interna entre os santos – uma partição (“cismas” 1 Co 11:18 – KJV margem). Enquanto uma “heresia” é uma divisão externa de santos que se separam e começam algo novo (“seitas 1 Co 11:19 – KJV margem). Um cisma, se não é julgado, se tornará uma seita. Paulo diz a Tito: “Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o; Sabendo que esse tal está pervertido, e peca, estando já em si mesmo condenado” (vs. 10-11). Paulo não diz para a assembleia colocá-lo fora de comunhão, porque ele, por seu próprio ato de levar seu partido a se separar da assembleia, já está fora. Se Tito se deparasse com uma pessoa que liderou uma separação, ele deveria “adverti-lo” uma e outra vez. Depois disso, ele deveria “evitá-lo”, porque ele está “pervertido”.

Um Resumo do que o Cristianismo Faz para Aqueles que Creem no Evangelho


Um Resumo do que o Cristianismo Faz para Aqueles que Creem no Evangelho

Vs. 4-9 – Paulo dá outro belo resumo do que o Cristianismo faz pela pessoa que crê no evangelho. Ele diz: “Mas quando apareceu a benignidade e caridade de Deus, nosso Salvador, para com os homens, não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas, segundo a Sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, que abundantemente Ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador; para que, sendo justificados pela Sua graça, sejamos feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna”. Como mencionado, o mundo deve ver no Cristão o que o evangelho pode fazer por uma pessoa. Em suma, quando crido, o evangelho não apenas livra uma pessoa do julgamento de seus pecados, mas também transforma sua vida de ruim para boa e a torna uma pessoa verdadeiramente feliz por ter sido trazida a um relacionamento vivo com Deus.
Paulo começa este resumo com a intervenção da “bondade e amor de Deus” aparecendo “para com os homens”. Isso se refere à vinda de Cristo para afastar o pecado pelo sacrifício de Si mesmo (Hb 9:26). Sem isso, não poderia haver bênção para ninguém, pois a questão do pecado tinha que ser resolvida primeiro. Paulo não entra nisso aqui, nem fala de fé e obediência do crente ao evangelho que são necessárias para a salvação. A razão é que ele está se concentrando nos benefícios positivos da salvação que Deus dá aos que creem.
Ao enfatizar esse lado das coisas, Paulo deixa claro que a salvação que Deus garantiu ao homem não é conquistada por nenhum mérito do crente. Ele diz: “não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas, segundo a Sua misericórdia, nos salvou”. Assim, a “misericórdia”, “amor” e “graça” de Deus que agiu para nos salvar não é algo que tivemos de trabalhar para conseguir; “é dom de Deus” (Ef 2:4-5, 8). O crente, portanto, não pode ter o crédito por sua salvação; “não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2:9; Rm 4:4-5).
Paulo então acrescenta: “pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo”. Isso se refere a um novo estado moral formado pelo Espírito no crente. Isso se manifestará em uma mudança externa em sua vida, e isso será algo que as pessoas verão. W. Scott confirmou isso, afirmando: “A lavagem da regeneração pode ser discernida pelo olho humano, pois é uma mudança externa” (Doctrinal Summaries, pág. 28).
Essa “lavagem” externa da vida de alguém é ilustrada no batismo. O novo convertido deixa seus pertences (cigarros, garrafas de bebidas alcoólicas, revistas mundanas etc.) na beira da água e entra nela. Depois de ser batizado, ele segue seu caminho com os Cristãos que participaram do batismo. Mas alguém o chama e diz: “Ei João, você esqueceu suas coisas”. Ele responde: “Deixe-as lá; elas pertencem ao velho João”. Assim, o efeito prático da lavagem da regeneração é que haverá uma separação moral (e, portanto, uma limpeza) do antigo estilo de vida em que a pessoa outrora vivia. As pessoas do mundo vão observá-lo e dizer: “Ele limpou sua vida; ele está agora no caminho direito e estreito!” A “renovação” do Espírito Santo, “que abundantemente Ele (Deus) derramou sobre nós”, é mencionada aqui porque é o Espírito que energiza a nova vida e nos permite viver uma vida divina de acordo com a vontade de Deus. A renovação do Espírito é uma obra ainda em curso no crente, enquanto o Espírito derramado sobre nós é a recepção permanente do Espírito ao crer no evangelho (Rm 5:5). F. B. Hole disse: “Ele foi ‘derramado’ sobre nós em abundância. Assim concedido, Ele energiza a nova vida que temos agora e trabalha uma renovação diária dentro de nós, que realiza uma salvação contínua e crescente da vida antiga que uma vez vivemos” (Epistles, vol. 2, pág. 190).
Paulo menciona “a lavagem da regeneração” em conexão com ser “salvo”. Isso ocorre porque a mudança moral deve ser parte integrante da salvação de uma pessoa; as duas coisas andam juntas. Deus não pretende que creiamos no evangelho e, assim, sejamos libertados do julgamento eterno de nossos pecados, para então continuarmos praticando os mesmos pecados pelos quais Cristo morreu para deles nos libertar! Toda essa conduta é hipocrisia e levanta uma questão sobre se essa pessoa foi realmente salva. Paulo enfatiza esse lado das coisas para Tito porque ele precisava insistir nisso em seu ministério em Creta, pois faltava muito disso entre os santos de lá.
O único outro lugar na Escritura onde a palavra “regeneração” ocorre é Mateus 19:28. Nessa passagem, refere-se à nova ordem moral externa das coisas que será estabelecida na Terra quando Cristo reinar em Seu reino milenar. Nesse dia vindouro, todos os homens viverão de acordo com os santos padrões de Deus (Sl 101:7-8; Zc 5:1-4). Enquanto esse dia ainda não chega, os Cristãos hoje devem manifestar a lavagem da regeneração em sua vida.
Não obstante, os Cristãos de todas as escolas de ensino teológico entenderam mal a regeneração. Eles acham que, como a palavra “regenerar” significa recomeçar, está se referindo a nascer de novo e, portanto, eles usam os termos de forma intercambiável. No entanto, J. N. Darby disse: “Regeneração não é a mesma palavra que ‘nascer de novo’, nem é usada dessa forma na Escritura” (nota de rodapé da sua tradução em Tito 3:5). F. B. Hole disse: “Devemos notar que a palavra “regeneração” em nosso versículo não é exatamente o equivalente ao novo nascimento” (Epistles, vol. 2, pág. 190). W. Scott disse: “Novo nascimento não é o mesmo que regeneração; o último termo só ocorre duas vezes no Novo Testamento (Tt 3:5; Mt 19:28). O primeiro termo refere-se a um trabalho interior; o último a uma mudança externa” (The Young Christian, vol. 2, pág. 131). W. Scott também disse: “A regeneração é quase universalmente considerada como equivalente ao novo nascimento, mas não é assim na Escritura. A regeneração é uma condição ou estado objetivo, enquanto o novo nascimento é a expressão de um estado interno e subjetivo” (Bible Handbook – Old Testament, pág. 372).
Tanto novo nascimento quanto regeneração se referem a um novo começo na vida de uma pessoa, mas são dois começos diferentes. O novo nascimento, que ocorre primeiro na história de uma pessoa, é um novo começo interior na alma ao receber uma nova vida de Deus. Uma evidência disso será vista em sua busca por Deus. A regeneração é um novo começo externo da vida de um crente, resultante de ele ter sido salvo e ter recebido o Espírito Santo. Novo nascimento e regeneração envolvem um “banho”, que significa lavagem ou limpeza. O banho envolvido no novo nascimento significa uma lavagem interior da alma ao receber uma nova vida limpa de Deus (Jo 13:10 – AIBB; 1 Co 6:11), enquanto o “banho” na regeneração significa um lavagem externa da vida da pessoa em um sentido prático (Tt 3:5 – nota de rodapé da tradução J. N. Darby[1]).
V. 7 – Paulo passa da obra de Deus em nós para a obra de Deus para nós. Ele diz: sendo justificados pela Sua graça, sejamos feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna2. Não poderíamos nos tornar herdeiros de Deus meramente pela obra do Espírito em nós; também devemos ser justificados por Sua graça, pela qual somos colocados em nossa plena posição Cristã diante de Deus “em Cristo” – que é o que justificação faz (Gl 2:17). Assim, Deus nos salvou e nos justificou, e, assim, fomos feitos “herdeiros” da herança – a qual abrange toda coisa criada (Rm 8:17; 1 Co 3:22; Gl 4:7; Ef 1:11, 14). E não é só isso, temos a “esperança” (uma certeza adiada) da vida eterna. Temos essa vida agora como uma possessão presente, mas devemos esperar para ser levados para casa no céu para tê-la em nosso estado glorificado, da qual Paulo fala aqui.
V. 8 – Ele conclui com: Fiel é a palavra, e isto quero que deveras afirmes [insista vigorosamente – JND], para que os que creem em Deus procurem [sejam cuidadosos em diligentemente – JND] aplicar-se às boas obras; estas coisas são boas e proveitosas aos homens. Assim, Tito deveria insistir no exercício prático da verdade na vida dos santos em um caráter piedoso, e isso seria visto em suas “boas obras”.




[1] N. do T.: “‘Lavagem’ está correto aqui. É um banho ou a água para ele. ‘Regeneração’ não é a mesma palavra para ‘nascido de novo’ e nem é usada assim na Escritura. A força da palavra é de uma mudança de posição; um novo estado de coisas. A palavra é apenas usada aqui e em Mateus19:28 em relação ao reino vindouro do Salvador”.

A Responsabilidade do Cristão em Relação às Pessoas do Mundo


A Responsabilidade do Cristão em Relação às Pessoas do Mundo

Vs. 2-3 – Paulo então fala da conduta do Cristão em relação a amigos, vizinhos e conhecidos incrédulos no mundo. Ele diz: “que a ninguém infamem, nem sejam contenciosos, mas moderados, mostrando toda a mansidão para com todos os homens” (AIBB). Isso mostra que é importante manter um espírito gracioso para com as pessoas perdidas deste mundo, para que eles possam ver o Cristianismo em ação em nós e, por meio de nosso comportamento piedoso, possamos obter oportunidades de lhes pregar o evangelho. Ser contencioso com nossos semelhantes dificilmente é o caminho para conquistá-los para Cristo. Manifestar um espírito correto para com os incrédulos não deve ser difícil quando lembramos que já fomos como eles antes de sermos salvos. Por isso, Paulo acrescenta: “Porque também nós éramos noutro tempo insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias concupiscências e deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos, odiando-nos uns aos outros”. Todo Cristão deve poder dizer sinceramente: “se não fosse a graça de Deus, aquela pessoa pecadora poderia ser eu!”. Uma percepção dessa graça divina que nos foi mostrada deve nos dar paciência para com todos os homens, e um genuíno amor e piedade por eles.

A Responsabilidade do Cristão em Relação às Autoridades


A Responsabilidade do Cristão em Relação às Autoridades

V. 1 – Paulo diz: “Adverte-lhes que estejam sujeitos aos governadores e autoridades, que sejam obedientes, e estejam preparados para toda boa obra” (AIBB). Julgamos por essa exortação e pela descrição de seu caráter no capítulo 1:12, que os santos de Creta não foram cuidadosos com isso e foram desrespeitosos e insubordinados às autoridades romanas que estavam sobre eles. Tito deveria tratar esse problema e corrigi-lo imediatamente. O dever do Cristão em relação ao governo (“os poderes que existem” – Rm 13:1) sob o qual ele vive é: orar, pagar e obedecer. Devemos orar pelos governantes no cargo (1 Tm 2:1-2), pagar nossos impostos (Rm 13:6-7) e obedecer a todas as ordenanças legais (1 Pe 2:13). Isso deve ser feito para que nosso testemunho do evangelho não seja prejudicado por má conduta. Aqueles que olham para nós não devem nos ver como rebeldes às autoridades governamentais, mas pessoas cumpridoras da lei, que têm o que o mundo precisa[1].
Ao abordar esse assunto, Paulo não diz a Tito que os santos de Creta se envolvam na política do mundo ou se envolvam em causas de reforma social, porque, como Cristãos, não somos chamados para tornar esse mundo um lugar melhor. O Cristão entende que o mundo é incorrigivelmente corrupto e está piorando a cada dia e, portanto, está sob a sentença do julgamento de Deus, que será executada em breve no segundo advento de Cristo. Portanto, gastar nossa energia na tentativa de melhorar as condições aqui seria semelhante a reorganizar as cadeiras que reclinavam no convés do Titanic enquanto ele afundava! Os Cristãos que se envolvem na tentativa de consertar o mundo apenas ficam contaminados e frustrados, e inevitavelmente falham em seu objetivo. Ló é mencionado na Escritura para nos ensinar que o crente não pode consertar o mundo, envolvendo-se em seus assuntos políticos (Gn 19). Tentar reformar o mundo reflete um equívoco básico do chamado do Cristão e o caráter incorrigível da natureza caída no homem. O dever do Cristão em relação aos poderes estabelecidos é que “estejam preparados para toda boa obra”, que deve ser compatível com os governos sob os quais ele vive.
Obviamente, existem limites para nossa obediência às autoridades governamentais sobre nós. Se eles nos mandarem fazer algo moral e eticamente errado, devemos antes “obedecer a Deus do que aos homens” (At 5:29). Contudo, o objetivo das autoridades geralmente é restringir o mal e incentivar o bem (Rm 13:2-4).


[1] N. do T.: Isto é, o mesmo espírito que havia em Cristo de Se submeter às autoridades que estavam sobre Ele, dando a César o que era de César e a Deus o que era de Deus.

VERDADE E PIEDADE DIANTE DO MUNDO - Capítulo 3

VERDADE E PIEDADE DIANTE DO MUNDO
Capítulo 3

Neste último capítulo, Paulo segue adiante para abordar o testemunho do Cristão perante o mundo. Aprendemos com suas observações aqui que a sã doutrina e a vida piedosa não são coisas válidas apenas para nossa vida em assembleia, mas elas devem ser vistas em nós enquanto caminhamos por este mundo. É a intenção de Deus que nossa vida exiba Seu poder de transformar pecadores em santos. As pessoas deste mundo devem ver o que a bondade e o amor de Deus podem fazer por eles. Infelizmente, essa mudança moral que acompanha a salvação de nossa alma estava faltando nos santos de Creta, e isso prejudicou muito o testemunho público deles diante do mundo (Compare Romanos 2:24). Paulo aborda essa questão no capítulo 3, concentrando-se em duas esferas em particular: a responsabilidade do crente em relação às autoridades e a responsabilidade do crente em suas interações sociais com pessoas deste mundo.

Três Grandes Motivadores para uma Vida Piedosa


Três Grandes Motivadores para uma Vida Piedosa

Vs. 11-15 – Relacionado à palavra “Porque” do versículo. 11, Paulo traz três grandes motivadores para a vida piedosa: 
  • O ensino da graça de Deus (vs. 11-12).
  • A iminência da vinda do Senhor (v. 13).
  • O grande preço que o Senhor pagou para nos redimir da vida de pecado (v. 14). 

Esses motivadores da vida piedosa são enfatizados aqui pelo apóstolo, porque era o que faltava aos santos de Creta. Eles foram verdadeiramente convertidos, mas havia pouco ou nenhum arrependimento em relação aos seus velhos hábitos.

O ENSINO DA GRAÇA (vs. 11-12)

Tendo mencionado “a doutrina de Deus, nosso Salvador” (v. 10), Paulo amplia o que há nesses próximos versículos. Ele diz: “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens. Ensinando-nos que, renunciando [tendo rejeitado – JND] à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente”. Esta é uma declaração abrangente de o que é o Cristianismo e o que ele faz para aqueles que creem no evangelho. Deus em graça tornou a salvação disponível para todos os homens por meio do envio de Seu Filho ao mundo. Aqueles que O recebem por fé são ensinados a negar a impiedade e as concupiscências mundanas e a viver uma vida santa neste presente século mau.
“A graça de Deus” é o nosso grande professor aqui. A graça é a concessão de favor imerecido a beneficiários que não o merecem. Isso é exatamente o que Deus fez pela raça humana. Pela bondade e amor de Seu coração, Ele encontrou um caminho por meio da morte de Seu Filho para trazer “salvação” ao homem. Aqueles que creem no Senhor Jesus Cristo e O recebem como seu Salvador são assim libertados da justa punição de seus pecados. Desse modo, somos instruídos, por esse ato de favor divino, sobre o que Deus pensa do pecado – ele odeia com ódio divino! É abominável para Sua natureza santa. Ele, portanto, certamente não quer que continuemos praticando o pecado. O crente é levado a se perguntar: “Como posso continuar fazendo essas coisas que Deus odeia e me salvou delas?” Essa lógica simples levará todo crente sóbrio a renunciar à sua vida anterior entregue “à impiedade e às concupiscências mundanas” para que agora “vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente” O verbo “renunciar” está no tempo aoristo do grego, indicando que essa renúncia à antiga vida do crente deve ser uma coisa feita de uma vez por todas. A tradução de J. N. Darby enfatiza isso ao traduzir o verbo como “tendo renunciado”. Assim, a graça de Deus se manifestou para todos os homens, mas apenas ensina aqueles que recebem a salvação que ela traz.

A IMINÊNCIA DA VINDA DO SENHOR (v. 13)

Paulo menciona a vinda do Senhor. Isso também nos motivará a viver piedosamente. Ele diz: “Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo”. Essa “bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória” são eventos escatológicos[1] que estão para ocorrer. São as duas partes da segunda vinda do Senhor. A bem-aventurada esperança é o Arrebatamento, quando o Senhor vier para levar Seus santos ao céu (Jo 14:2-3; 1 Ts 4:15-18). Isso ocorrerá antes do período de 7 anos da tribulação. O Aparecimento da glória é a revelação pública de Cristo com Seus santos perante o mundo após a grande tribulação (Zc 14:5; 1 Ts 3:13; Jd 14). Nessa ocasião, Ele “com justiça há de julgar o mundo” (At 17:31) e estabelecerá Seu reino milenar (Ap 11:15). Para um Cristão, essas coisas são muito mais que meros eventos proféticos. O Arrebatamento ocorrerá quando Cristo, nosso “Noivo”, vier nos levar daqui para a casa do Pai (Mt 25:6; Jo 14:2-3), momento em que estaremos formalmente unidos a Ele nas “bodas do Cordeiro” (Ap 19:7-10). Isso gera afeições nupciais em nosso coração (Ap 22:17). O apóstolo João nos diz que ter essa esperança de estar com Ele e ser como Ele nos faz querer nos purificar “como também Ele é puro” (1 Jo 3:3). Assim, se a iminência da vinda do Senhor para nós for mantida corretamente em nosso coração, afetará nossa vida praticamente e nos motivará a viver piedosamente – pois nenhum Cristão sóbrio quer ser encontrado fazendo algo duvidoso quando o Senhor vier nos chamar ao lar (Lc 12:35-40).
A Aparição de Cristo também é mencionada, porque, quando entendida adequadamente, também terá um efeito prático em nossa vida. A Aparição de Cristo é o momento em que os resultados de nossa vida serão exibidos diante do mundo na forma de recompensas. É perfeitamente possível perdermos uma recompensa por termos vivido descuidadamente (Ap 3:11) e, portanto, poderíamos ficar, diante d’Ele, “envergonhados na Sua vinda” (1 Jo 2:28 – ARA). Esse fato nos motiva a viver de uma maneira que alcance a aprovação do Senhor naquele dia (2 Co 5:9). Assim, ambos os aspectos de Sua vinda são colocados diante de nós como motivação para viver uma vida piedosa.
Alguns pensam que a bem-aventurada esperança (o Arrebatamento) e a Aparição de Cristo são um e o mesmo evento. Essa é uma doutrina errônea que existe há muitos séculos. Faz parte da Teologia Reformada (do Pacto). Em apoio a isso, muitas versões modernas traduzem esse versículo 13 como sendo um evento. Seu raciocínio para fazer isso é baseado em uma regra na gramática grega. A regra é que, quando existem dois substantivos conectados pela conjunção “e”, se o primeiro substantivo tiver o artigo “o”, mas o segundo não, então o segundo substantivo se refere à mesma coisa que o primeiro e é uma descrição adicional disso. Como esse versículo tem apenas um “o” em conexão com a bem-aventurada esperança e a gloriosa Aparição, alguns tradutores e estudantes da Bíblia concluíram que estão se referindo à mesma coisa.
W. Kelly abordou esse assunto, mostrando que há exceções a essa regra. As seguintes observações são retiradas de The Bible Treasury, vol. 3, pág. 32: “Pergunta: Uma nota incorreta indaga se essa ‘bem-aventurada esperança’ é equivalente ou distinta de o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo’. Resposta: Eu entendo que a forma da frase em grego (um artigo para os dois substantivos conectados) não os identifica necessariamente, mas apenas os une em uma classe comum. Compare 2 Tessalonicenses 2:1, onde a mesma construção ocorre. No entanto, ninguém sustentaria que ‘vinda de nosso Senhor Jesus Cristo’ é a mesma coisa que ‘nossa reunião com Ele’. Devem ser consideradas, penso, como juntamente associadas na mente do Espírito Santo, embora em si mesmas sejam assuntos distintos. Pode ajudar alguns a entender melhor Tito 2:13, se eles tiverem em mente que o verdadeiro sentido é “o aparecimento da glória – em contraste com a graça que já apareceu (“se há manifestado” – v. 11). Essa “bem-aventurada esperança” me parece ainda mais próxima e mais pessoal para o coração”. Portanto, há exceções a essa regra na gramática grega que exigem discernimento de nossa parte sobre onde e quando elas se aplicam. Como sabemos de outras passagens que o Arrebatamento e a Aparição de Cristo são eventos distintos, segue-se logicamente que seria assim aqui em Tito 2:13.
F. B. Hole disse: “Pode ser que, pela ‘bem-aventurada esperança’, o apóstolo tenha indicado a vinda do Senhor para Seus santos, da qual ele escreve aos tessalonicenses em sua primeira epístola (cap. 4:15-17), e se assim for, temos ambas, a Sua vinda para e a Sua vinda com os Seus santos, diante de nós como nossa esperança no versículo 13” (Epistles, vol. 2, pág. 189). Assim, “graça” apareceu no primeiro advento de Cristo (v. 11) e “glória” ainda está para aparecer no Seu segundo advento (v. 13).

O GRANDE PREÇO QUE O SENHOR PAGOU PARA NOS REDIMIR (v. 14)

Paulo passa a dar talvez o maior de todos os motivadores para uma vida piedosa – o preço extraordinário que o Senhor pagou para nos redimir. Ele diz: “O qual Se deu a Si mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade [ausência de lei – JND], e purificar para Si um povo Seu especial, zeloso de boas obras”. O que mais o Senhor poderia ter dado para nos salvar do que dar a “Si mesmo?” Esse fato é mencionado pelo menos dez vezes na Escritura (Mt 20:28; Gl 1:4, 2:20; Ef 5:2, 25; 1 Tm 2:6; Tt 2:14; Hb 7:27, 9:14, 26). Que sacrifício! É a mente de Deus que isso produza resposta em nós. Quando reservamos um tempo para considerar o quanto custou ao Senhor nos redimir – a agonia de Seus sofrimentos expiatórios – responderemos com apreciação e gratidão, e isso se evidenciará em devoção de coração a Ele. Isso criará em nós um desejo de agradá-Lo e fazer algo por Ele por causa do que Ele fez por nós. Como o salmista, perguntaremos: “Que darei eu ao Senhor por todos os Seus benefícios para comigo?” (Sl 116:12 – ARA) Sabendo que Deus odeia o pecado, o crente de coração correto será exercitado para abandonar toda “rebeldia” (JND) e começará a aperfeiçoar a santidade em sua vida (2 Co 7:1; 1 Tm 4:7).
Paulo prossegue dizendo que é intenção de Deus que os Cristãos sejam Seu povo “especial, zeloso de boas obras”. Isso mostra que o objetivo do Cristianismo não é criar um vácuo na vida das pessoas; a rebeldia deve ser substituída pela vida piedosa manifestada na realização de boas obras. Isso mostra que aqueles que são os destinatários da graça salvadora de Deus devem ser louvados por sua conduta.
V. 15 – O capítulo termina com uma reafirmação das responsabilidades de Tito. Paulo diz; Fala disto, e exorta e repreende com toda a autoridade”. Há uma ordem moral aqui. Primeiro, Tito deveria “falar” das coisas que convém a um comportamento Cristão, mas se isso não fosse recebido, ele deveria “exortar” os santos a respeito dessas coisas. Isso implica em usar mais força. Se ainda não estava sendo recebido, então Tito deveria “repreender” com “toda a autoridade”, pois ele fora comissionado com autoridade apostólica para insistir nessas coisas.
Quanto à conduta de Tito, Paulo disse: “Ninguém te despreze”. Ele deveria ter o cuidado de andar de maneira correta em todas as coisas, para que ninguém tivesse uma justa causa para desconsiderar seu ministério.




[1] N. do T.: A escatologia é o estudo do destino final do homem e do mundo. A palavra é formada a partir de dois termos gregos éskhatos, que significa “extremo” ou “último” e logos, que significa “palavra” ou “estudo”.

OS SERVOS (vs. 9-15)


OS SERVOS (vs. 9-15)

Paulo inclui uma palavra para os empregados domésticos. Ele diz a Tito: “Exorta os servos a que se sujeitem a seus senhores, e em tudo agradem, não contradizendo; não defraudando [furtando]; antes, mostrando toda a boa lealdade, para que, em tudo, sejam ornamento da doutrina de Deus, nosso Salvador”. Esses servos eram escravos. Como escravos Cristãos, eles deveriam prestar testemunho de Cristo por meio de seu comportamento, enquanto trabalhavam para seus senhores terrenos. Se eles se comportassem de maneira piedosa, estando sujeitos a seus senhores e agradando-os bem – “não contradizendo” ou “furtando” – esses servos “adornariam a doutrina de Deus nosso Salvador em todas as coisas”. Assim, o lado prático da verdade do Cristianismo seria visto em ação e seria um poderoso testemunho prestado para o Senhor. A conduta piedosa embeleza a doutrina que defendemos.
É interessante e instrutivo o modo como Paulo trata o assunto da escravidão em suas epístolas (Ef 6:5-9; Cl 3:22-25; 1 Tm 6:1-2). É algo que Deus nunca pretendeu para o homem; foi introduzido por homens perversos visando ganho por meios desonestos. No entanto, ao escrever para os escravos Cristãos, Paulo não os incentiva a que se esforcem em se livrar dessa situação. Em vez disso, ele diz a eles como se comportar nessa situação em que se encontram, para que o testemunho da graça de Deus no evangelho seja promovido. Isso ocorre porque o Cristianismo não é uma força para corrigir injustiças sociais no mundo; esse não é o objetivo do evangelho. Quando o Senhor veio em Sua primeira vinda, Ele não tentou reformar o mundo retificando seus erros sociais e políticos. Ele fará tudo isso no dia vindouro, quando intervier no julgamento em Sua Aparição. Então, tudo que estiver errado neste mundo será corrigido (Is 40:3-5). Consequentemente, os Cristãos não foram chamados para consertar o mundo, mas para esperar pelo dia vindouro. Devemos deixar o mundo como está e anunciar o evangelho que chama homens para fora dele para ir ao céu. Portanto, não há instrução nas epístolas para que os Cristãos consertem os erros da escravidão – ou qualquer outra injustiça social no mundo. Isso ocorre porque estamos “no” mundo, mas não somos “do” mundo (Jo 17:14). O Senhor disse que, se Seu reino fosse “deste mundo”, Seus servos lutariam por essas causas (Jo 18:36). Mas, como não somos deste mundo, deixemos “o caco entre outros cacos de barro” (Is 45:9).
Paulo sabia o quanto era importante para os Cristãos manter um bom testemunho diante do mundo. Sua grande preocupação com os escravos Cristãos era que eles se comportassem de maneira correta, para que “o nome de Deus e a doutrina” não fossem “blasfemados” (1 Tm 6:1). Esses escravos crentes não deveriam fugir (como Onésimo fez antes de ser salvo – Fm 15), mas permanecer em sua posição na vida e glorificar a Deus diante de seus senhores, tratando-os com respeito genuíno, e “não servindo só na aparência, como para agradar aos homens”. Se servissem com “simplicidade de coração, temendo a Deus”, seriam um poderoso testemunho da realidade da fé que tinham em Cristo (Cl 3:22). Assim, eles deveriam trabalhar para seus senhores “de todo o coração, como ao Senhor”, pois, na realidade, estavam servindo a “Cristo, o Senhor” (Cl 3:23-24). Isso mostra que, independentemente de onde o crente se posicione quanto a sua situação na sociedade, ele ainda tem uma oportunidade de testemunhar por Cristo. Não podemos todos ser missionários, mas todos podemos compartilhar o evangelho com aqueles com quem interagimos em nossa vida diária e, assim, servir ao Senhor dessa maneira.

OS JOVENS (vs. 6-8)


OS JOVENS (vs. 6-8)

Paulo passa a dar uma palavra aos rapazes. Ele diz: “Exorta semelhantemente os mancebos a que sejam moderados. Em tudo te dá por exemplo de boas obras; na doutrina mostra incorrupção, gravidade, sinceridade, linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós”. Ao incluir Tito em seus comentários aos homens mais jovens, mostra que Tito também era um irmão mais novo – embora provavelmente não seja tão jovem quanto Timóteo. Tito deveria ensinar os rapazes por meio de exemplo, mostrando-se como um “exemplo”.
Os jovens deveriam ser “moderados”, o que tem a ver com o bom senso em todas as coisas – tanto espirituais quanto naturais.
Eles também deveriam mostrar “incorrupção” na doutrina. Ser sólido na doutrina requer diligência, acompanhando vários assuntos da Escritura com um estudo cuidadoso (1 Tm 4:6; 2 Tm 2:15).
Eles também deveriam ser marcados pela “gravidade”. A chocarrice[1] não teria lugar na vida deles se esperassem que os santos os levassem a sério.
Por fim, quanto ao seu discurso, eles deveriam falar em linguagem “sã”, para que aqueles que se opusessem à verdade não tivessem motivo para condená-los.


[1] N. do T.: “Chocarrices” (Ef 5:4) é a tradução da palavra grega “morologia” que significa divertir alguém com gracejos, expondo outros a desprezo – “o bobo da corte”. Efésios 5:4 também menciona “parvoíces” (“eutrapelia”) que significa brincadeiras vulgares e obscenas.