quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Três Grandes Motivadores para uma Vida Piedosa


Três Grandes Motivadores para uma Vida Piedosa

Vs. 11-15 – Relacionado à palavra “Porque” do versículo. 11, Paulo traz três grandes motivadores para a vida piedosa: 
  • O ensino da graça de Deus (vs. 11-12).
  • A iminência da vinda do Senhor (v. 13).
  • O grande preço que o Senhor pagou para nos redimir da vida de pecado (v. 14). 

Esses motivadores da vida piedosa são enfatizados aqui pelo apóstolo, porque era o que faltava aos santos de Creta. Eles foram verdadeiramente convertidos, mas havia pouco ou nenhum arrependimento em relação aos seus velhos hábitos.

O ENSINO DA GRAÇA (vs. 11-12)

Tendo mencionado “a doutrina de Deus, nosso Salvador” (v. 10), Paulo amplia o que há nesses próximos versículos. Ele diz: “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens. Ensinando-nos que, renunciando [tendo rejeitado – JND] à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente”. Esta é uma declaração abrangente de o que é o Cristianismo e o que ele faz para aqueles que creem no evangelho. Deus em graça tornou a salvação disponível para todos os homens por meio do envio de Seu Filho ao mundo. Aqueles que O recebem por fé são ensinados a negar a impiedade e as concupiscências mundanas e a viver uma vida santa neste presente século mau.
“A graça de Deus” é o nosso grande professor aqui. A graça é a concessão de favor imerecido a beneficiários que não o merecem. Isso é exatamente o que Deus fez pela raça humana. Pela bondade e amor de Seu coração, Ele encontrou um caminho por meio da morte de Seu Filho para trazer “salvação” ao homem. Aqueles que creem no Senhor Jesus Cristo e O recebem como seu Salvador são assim libertados da justa punição de seus pecados. Desse modo, somos instruídos, por esse ato de favor divino, sobre o que Deus pensa do pecado – ele odeia com ódio divino! É abominável para Sua natureza santa. Ele, portanto, certamente não quer que continuemos praticando o pecado. O crente é levado a se perguntar: “Como posso continuar fazendo essas coisas que Deus odeia e me salvou delas?” Essa lógica simples levará todo crente sóbrio a renunciar à sua vida anterior entregue “à impiedade e às concupiscências mundanas” para que agora “vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente” O verbo “renunciar” está no tempo aoristo do grego, indicando que essa renúncia à antiga vida do crente deve ser uma coisa feita de uma vez por todas. A tradução de J. N. Darby enfatiza isso ao traduzir o verbo como “tendo renunciado”. Assim, a graça de Deus se manifestou para todos os homens, mas apenas ensina aqueles que recebem a salvação que ela traz.

A IMINÊNCIA DA VINDA DO SENHOR (v. 13)

Paulo menciona a vinda do Senhor. Isso também nos motivará a viver piedosamente. Ele diz: “Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo”. Essa “bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória” são eventos escatológicos[1] que estão para ocorrer. São as duas partes da segunda vinda do Senhor. A bem-aventurada esperança é o Arrebatamento, quando o Senhor vier para levar Seus santos ao céu (Jo 14:2-3; 1 Ts 4:15-18). Isso ocorrerá antes do período de 7 anos da tribulação. O Aparecimento da glória é a revelação pública de Cristo com Seus santos perante o mundo após a grande tribulação (Zc 14:5; 1 Ts 3:13; Jd 14). Nessa ocasião, Ele “com justiça há de julgar o mundo” (At 17:31) e estabelecerá Seu reino milenar (Ap 11:15). Para um Cristão, essas coisas são muito mais que meros eventos proféticos. O Arrebatamento ocorrerá quando Cristo, nosso “Noivo”, vier nos levar daqui para a casa do Pai (Mt 25:6; Jo 14:2-3), momento em que estaremos formalmente unidos a Ele nas “bodas do Cordeiro” (Ap 19:7-10). Isso gera afeições nupciais em nosso coração (Ap 22:17). O apóstolo João nos diz que ter essa esperança de estar com Ele e ser como Ele nos faz querer nos purificar “como também Ele é puro” (1 Jo 3:3). Assim, se a iminência da vinda do Senhor para nós for mantida corretamente em nosso coração, afetará nossa vida praticamente e nos motivará a viver piedosamente – pois nenhum Cristão sóbrio quer ser encontrado fazendo algo duvidoso quando o Senhor vier nos chamar ao lar (Lc 12:35-40).
A Aparição de Cristo também é mencionada, porque, quando entendida adequadamente, também terá um efeito prático em nossa vida. A Aparição de Cristo é o momento em que os resultados de nossa vida serão exibidos diante do mundo na forma de recompensas. É perfeitamente possível perdermos uma recompensa por termos vivido descuidadamente (Ap 3:11) e, portanto, poderíamos ficar, diante d’Ele, “envergonhados na Sua vinda” (1 Jo 2:28 – ARA). Esse fato nos motiva a viver de uma maneira que alcance a aprovação do Senhor naquele dia (2 Co 5:9). Assim, ambos os aspectos de Sua vinda são colocados diante de nós como motivação para viver uma vida piedosa.
Alguns pensam que a bem-aventurada esperança (o Arrebatamento) e a Aparição de Cristo são um e o mesmo evento. Essa é uma doutrina errônea que existe há muitos séculos. Faz parte da Teologia Reformada (do Pacto). Em apoio a isso, muitas versões modernas traduzem esse versículo 13 como sendo um evento. Seu raciocínio para fazer isso é baseado em uma regra na gramática grega. A regra é que, quando existem dois substantivos conectados pela conjunção “e”, se o primeiro substantivo tiver o artigo “o”, mas o segundo não, então o segundo substantivo se refere à mesma coisa que o primeiro e é uma descrição adicional disso. Como esse versículo tem apenas um “o” em conexão com a bem-aventurada esperança e a gloriosa Aparição, alguns tradutores e estudantes da Bíblia concluíram que estão se referindo à mesma coisa.
W. Kelly abordou esse assunto, mostrando que há exceções a essa regra. As seguintes observações são retiradas de The Bible Treasury, vol. 3, pág. 32: “Pergunta: Uma nota incorreta indaga se essa ‘bem-aventurada esperança’ é equivalente ou distinta de o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo’. Resposta: Eu entendo que a forma da frase em grego (um artigo para os dois substantivos conectados) não os identifica necessariamente, mas apenas os une em uma classe comum. Compare 2 Tessalonicenses 2:1, onde a mesma construção ocorre. No entanto, ninguém sustentaria que ‘vinda de nosso Senhor Jesus Cristo’ é a mesma coisa que ‘nossa reunião com Ele’. Devem ser consideradas, penso, como juntamente associadas na mente do Espírito Santo, embora em si mesmas sejam assuntos distintos. Pode ajudar alguns a entender melhor Tito 2:13, se eles tiverem em mente que o verdadeiro sentido é “o aparecimento da glória – em contraste com a graça que já apareceu (“se há manifestado” – v. 11). Essa “bem-aventurada esperança” me parece ainda mais próxima e mais pessoal para o coração”. Portanto, há exceções a essa regra na gramática grega que exigem discernimento de nossa parte sobre onde e quando elas se aplicam. Como sabemos de outras passagens que o Arrebatamento e a Aparição de Cristo são eventos distintos, segue-se logicamente que seria assim aqui em Tito 2:13.
F. B. Hole disse: “Pode ser que, pela ‘bem-aventurada esperança’, o apóstolo tenha indicado a vinda do Senhor para Seus santos, da qual ele escreve aos tessalonicenses em sua primeira epístola (cap. 4:15-17), e se assim for, temos ambas, a Sua vinda para e a Sua vinda com os Seus santos, diante de nós como nossa esperança no versículo 13” (Epistles, vol. 2, pág. 189). Assim, “graça” apareceu no primeiro advento de Cristo (v. 11) e “glória” ainda está para aparecer no Seu segundo advento (v. 13).

O GRANDE PREÇO QUE O SENHOR PAGOU PARA NOS REDIMIR (v. 14)

Paulo passa a dar talvez o maior de todos os motivadores para uma vida piedosa – o preço extraordinário que o Senhor pagou para nos redimir. Ele diz: “O qual Se deu a Si mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade [ausência de lei – JND], e purificar para Si um povo Seu especial, zeloso de boas obras”. O que mais o Senhor poderia ter dado para nos salvar do que dar a “Si mesmo?” Esse fato é mencionado pelo menos dez vezes na Escritura (Mt 20:28; Gl 1:4, 2:20; Ef 5:2, 25; 1 Tm 2:6; Tt 2:14; Hb 7:27, 9:14, 26). Que sacrifício! É a mente de Deus que isso produza resposta em nós. Quando reservamos um tempo para considerar o quanto custou ao Senhor nos redimir – a agonia de Seus sofrimentos expiatórios – responderemos com apreciação e gratidão, e isso se evidenciará em devoção de coração a Ele. Isso criará em nós um desejo de agradá-Lo e fazer algo por Ele por causa do que Ele fez por nós. Como o salmista, perguntaremos: “Que darei eu ao Senhor por todos os Seus benefícios para comigo?” (Sl 116:12 – ARA) Sabendo que Deus odeia o pecado, o crente de coração correto será exercitado para abandonar toda “rebeldia” (JND) e começará a aperfeiçoar a santidade em sua vida (2 Co 7:1; 1 Tm 4:7).
Paulo prossegue dizendo que é intenção de Deus que os Cristãos sejam Seu povo “especial, zeloso de boas obras”. Isso mostra que o objetivo do Cristianismo não é criar um vácuo na vida das pessoas; a rebeldia deve ser substituída pela vida piedosa manifestada na realização de boas obras. Isso mostra que aqueles que são os destinatários da graça salvadora de Deus devem ser louvados por sua conduta.
V. 15 – O capítulo termina com uma reafirmação das responsabilidades de Tito. Paulo diz; Fala disto, e exorta e repreende com toda a autoridade”. Há uma ordem moral aqui. Primeiro, Tito deveria “falar” das coisas que convém a um comportamento Cristão, mas se isso não fosse recebido, ele deveria “exortar” os santos a respeito dessas coisas. Isso implica em usar mais força. Se ainda não estava sendo recebido, então Tito deveria “repreender” com “toda a autoridade”, pois ele fora comissionado com autoridade apostólica para insistir nessas coisas.
Quanto à conduta de Tito, Paulo disse: “Ninguém te despreze”. Ele deveria ter o cuidado de andar de maneira correta em todas as coisas, para que ninguém tivesse uma justa causa para desconsiderar seu ministério.




[1] N. do T.: A escatologia é o estudo do destino final do homem e do mundo. A palavra é formada a partir de dois termos gregos éskhatos, que significa “extremo” ou “último” e logos, que significa “palavra” ou “estudo”.

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