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quinta-feira, 21 de novembro de 2019
quarta-feira, 2 de outubro de 2019
APÊNDICE
Todas
as versões da Bíblia em português não fazem qualquer distinção entre o caráter
presente e o futuro da vida eterna como o fazem as versões de J. N. Darby e
William Kelly.
Na
tradução de J. N. Darby os versículos que se referem ao caráter presente (que traduzem como eterna vida) são: Mt
19:16, 29, 25:46; Mc 10:30; Lc 10:25, 18:30; Jo 3:15, 16, 36, 4:36, 5:24, 39,
6:27, 40, 47, 54, 68, 10:28; 12:25, 50, 17:2; Rm 2:7; 1 Tm 1:16; 1 Jo 2:25.
A
tradução de William Kelly ainda acrescenta à lista acima quatro versículos (1
Jo 3:15, 5:11, 13, 20) que se referem ao caráter presente da vida eterna.
Os
versículos seguintes se referem ao caráter
futuro (que traduzem como vida eterna): Mc 10:17; Lc 18:18; Jo 4:14,
17:3; At 13:46, 48; Rm 5:21, 6:22, 23, Gl 6:8; 1 Tm 6:12; Tt 1:2, 3:7; 1 Jo
1:2; Jd 21.
Conclusões
Conclusões
A
carta cumpriu seu propósito? Filemom respondeu favoravelmente ao pedido de
Paulo e perdoou o escravo que voltou? A Escritura não dá a resposta. No
entanto, é difícil imaginar que um pedido feito com um amor tão delicado e
terno e uma graça diplomática teria sido recusado por Filemom. O amor nunca
falha (1 Co 13:8). A eternidade nos dirá o resto da história.
Os Elementos do Evangelho da Graça de Deus São Ilustrados na História de Onésimo
Os Elementos do Evangelho
da Graça de Deus São Ilustrados na História de Onésimo
F. B. Hole disse: “Não devemos deixar
essa epístola sem perceber a maneira impressionante de como toda a história
ilustra o que a mediação significa e envolve, ilustrando realmente a afirmação:
‘Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem’ (1 Tm
2:5). Deus é o único ofendido pelo pecado; homem, o ofensor; o Homem Cristo
Jesus, o Mediador.
Podemos nos ver retratados em Onésimo e
sua triste história. Éramos também ‘inúteis’. Injuriamos a Deus e,
consequentemente, éramos Seus devedores, tendo em vista que não podíamos pagar.
Também ‘nos afastamos’ d’Ele, pois o temíamos e desejávamos estar o mais longe
possível de Sua presença. Nossa alienação foi fruto do nosso pecado.
A mediação de Paulo entre Filemom e
Onésimo ilustra, embora apenas levemente, o que Cristo fez. Não podemos quase ouvir
o bem-aventurado Salvador falando assim quando, na cruz, Ele levou a culpa de
nossas iniquidades e tomou o julgamento que merecíamos? Não devemos bendizê-Lo
para sempre em relação a tudo o que nos era devido por causa de nossos pecados,
quando Ele disse a Deus: ‘Ponha isso na Minha conta’?
No entanto, existe essa diferença:
embora Paulo tenha que escrever: ‘Eu retribuirei’, mas nosso Salvador
ressuscitado não usa o tempo futuro. Sua palavra para nós no evangelho, como
fruto de Sua morte e ressurreição, é: ‘Eu a paguei’. Ele foi entregue por
nossas ofensas e ressuscitado para nossa justificação. Por isso, é que,
justificados pela fé, temos paz com Deus. Nesse ponto, portanto, a ilustração
fica muito aquém da realidade ilustrada.
Nossa ilustração também falha nisso, que
Deus não precisa de persuasão ao pleno exercício da graça, como era necessário
no caso de Filemom. Ele é a própria Fonte da graça. Ele, no entanto, precisa de
uma base justa para demonstrar Sua graça, assim como Paulo forneceu a Filemom
uma razão justa de graça ao assumir todas as responsabilidades de Onésimo. A
mediação envolve a aceitação de tais responsabilidades, para que seja exercida
plena e efetivamente, pois somente então a graça pode reinar por meio da justiça”
(Epistles, vol. 2, págs. 194-195).
Saudações finais
Saudações Finais
Vs. 23-24 – A carta termina com breves
saudações enviadas por alguns dos “cooperadores” de Paulo – um dos quais
também foi cativo com Paulo (Epafras).
V. 25 – Sua última palavra a Filemom
foi: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com o vosso espírito. Amém”. Essa foi uma observação importante
de despedida, pois Filemom precisava ter um espírito correto ao lidar com toda
a questão da qual Paulo lhe pedia.
Sua confiança em Filemom
Sua confiança em Filemom
Vs. 20-23 – Paulo encerra seu pedido
afirmando sua absoluta confiança de que ouviria uma resposta favorável de Filemom.
Ele diz: “Sim, irmão, eu me regozijarei de ti no Senhor: recreia as minhas
entranhas no Senhor. Escrevi-te confiado na tua obediência, sabendo que ainda
farás mais do que digo”. Ele
usa a palavra “obediência” aqui, mas não como obediência a um comando
apostólico, mas ao chamado de Filemom ao dever Cristão. Examinando a carta,
podemos ver como tudo isso seria irresistível para Filemom – um homem
caracterizado por amor e fé (v. 5). Se ele estivesse propenso a se endurecer, ela
teria derretido seu coração. O efeito do apelo gracioso e amável de Paulo deve
ter sido irresistível.
Paulo encerra seu humilde pedido com uma
pequena solicitação adicional para que Filemom preparasse (“prepara-me”)
um alojamento para ele, pois esperava ser libertado e pretendia ir a Colossos,
onde aparentemente nunca tinha visitado antes (Cl 2:1). Ele diz a Filemom que
ele estava contando com suas “orações” para que assim fosse feito (v.
22).
O Compromisso Assumido por Paulo
O Compromisso Assumido
por Paulo
Vs. 17-19 – Paulo então faz um terceiro
pedido a Filemom para receber Onésimo. “Assim pois, se me tens por
companheiro, recebe-o como a mim mesmo. E, se te
fez algum dano, ou te deve alguma
coisa, põe isso à minha conta. Eu, Paulo, de minha própria mão o
escrevi; eu o pagarei, para te não dizer que ainda mesmo
a ti próprio a mim te deves”.
Ser considerado amigo ou camarada é uma coisa boa, mas ser considerado como um “companheiro
[parceiro – KJV]”, como Paulo acreditava que
ele era para Filemom, é uma coisa ainda maior. É assim que ele pede a recepção
de Onésimo. Ele não pede apenas que seja recebido meramente, mas que seja
recebido como Filemom receberia o próprio apóstolo! Este foi realmente um
pedido ousado. O que Filemom deve ter pensado?
Se houvesse alguma suspeita latente no
coração de Filemom, Paulo se apressou em apagá-la, prometendo assumir todas as
obrigações pendentes que pudessem ter ocorrido. Ele diz: “se te fez algum
dano, ou te deve alguma coisa,
põe isso à minha conta”. Ele
não chama a ofensa de furto, mas se houvesse algo pendente da parte de Onésimo,
Paulo se comprometeu de próprio punho, dizendo: “eu o pagarei”. Que espírito
de graça Cristão! E que exemplo para os pacificadores! Podemos querer ajudar a
curar uma ruptura pessoal que se desenvolveu entre os santos, e esse é um bom
desejo, mas estamos dispostos a cobrir os custos que possam ter ocorrido?
Assim, vemos uma progressão na tríplice
solicitação de Paulo de “receber” Onésimo. No versículo 12, ele pediu a Filemom
para recebê-lo como um escravo arrependido que havia sido salvo. Então, no
versículo 15, ele pede que ele seja recebido como um irmão amado. Mas agora no
versículo 17, ele visa ainda mais alto e pede que seja recebido como o próprio
apóstolo!
Como motivação adicional, Paulo
acrescenta: “para te não dizer que ainda mesmo a ti próprio a mim te deves”. Ou seja, o que fosse que Paulo tivesse
pedido a ele, na verdade, Filemom era devedor a Paulo – ele devia a si mesmo a
Paulo. A maioria dos expositores diz que isso é uma referência ao fato de que Filemom
havia sido salvo por meio de Paulo e, portanto, ele havia recebido algo que o
dinheiro nunca poderia pagar.
Seu Pedido
Seu Pedido
Vs. 8-9 – Somente após uma introdução
cuidadosa, terna e extensa é que Paulo prossegue com o propósito de sua carta.
Mesmo assim, ele adia seu pedido para lembrar a Filemom de que ele não estava
afirmando sua autoridade apostólica e impondo algo a ele nesta questão. Ele
preferiu suplicar a Filemom em prol do amor, como sendo o servo idoso e
prisioneiro do Senhor. Ele poderia muito bem, como apóstolo, ter dado uma ordem
a Filemom, mas preferia ver aquilo que estava prestes a solicitar ser realizado
pela graça e amor Cristãos. Assim, ele diz: “Pois bem, ainda que eu sinta
plena liberdade em Cristo para te ordenar o que convém, prefiro, todavia,
solicitar em nome do amor, sendo o que sou, Paulo, o velho e, agora, até
prisioneiro de Cristo Jesus” (ARA).
Ele contava com o amor fraterno trabalhando no coração de Filemom para
responder a seu pedido, pois o amor é “um caminho ainda mais excelente” de
lidar com questões e problemas entre os santos (1 Co 12:31). Ser um servo “velho”
foi intencional para inspirar o respeito de Filemom, e ser um “prisioneiro”
do Senhor inspiraria sua empatia.
Vs. 10-12 – Finalmente, Paulo chega ao
seu ponto e faz seu pedido para o qual a carta foi redigida. Ele roga a Filemom
em nome de Onésimo, que havia sido notavelmente salvo por meio de Paulo. Ele
diz: “Peço-te por meu filho Onésimo, que gerei nas minhas prisões: o qual,
noutro tempo, te foi inútil, mas, agora, a ti e a mim, muito útil; eu to tornei
a enviar. E tu torna a recebê-lo como às minhas entranhas”. Ao chamar Onésimo de “meu filho”,
Paulo indicou carinhosamente que Onésimo agora era um de seus convertidos – ele
fora salvo por Paulo! Ele fala de Timóteo e Tito da mesma maneira (1 Tm 1:2; 2 Tm
2:1; Tt 1:4). Pedro fala de Marcos da mesma forma (1 Pe 5:13).
Acompanhando a fé de Onésimo em Cristo, houve
uma transformação completa de seu caráter. Ele havia sido “inútil”, mas
agora era “útil” no serviço do Senhor. Essa transformação foi uma prova
clara de que ele realmente havia sido salvo. Com o argumento de que houve uma verdadeira
conversão nesse homem, Paulo faz um pedido triplo a Filemom para “recebê-lo”
(vs. 12, 15, 17). Ele gentilmente pressiona Filemom que, uma vez que o Senhor
perdoou Onésimo e o recebeu, ele deveria fazer o mesmo. Paulo não pede sua
liberdade, mas seu perdão. Acrescentando as palavras: “como às minhas entranhas”,
ele expressou sua profunda afeição por esse novo converso.
Vs. 13-14 – Paulo continua explicando
por que estava enviando Onésimo de volta a Filemom: “Eu bem o quisera
conservar comigo, para que por ti me servisse nas prisões do evangelho; mas nada
quis fazer sem o teu parecer, para que o teu benefício não fosse como por
força, mas voluntário”. Onésimo
se tornara útil para Paulo em seus trabalhos no evangelho, mas Paulo sabia que
Onésimo pertencia a Filemom, e mantê-lo lá em Roma teria passado por cima dos direitos
de Filemom. Ele, portanto, achava que essa questão de transgressão pessoal
deveria ser resolvida antes que qualquer outra coisa fosse considerada. Onésimo
deve ter concordado com isso porque estava disposto a voltar para Colossos e
enfrentar seu mestre. Era uma distância considerável a percorrer – estava em outro
continente! Sua vontade de voltar e consertar as coisas com Filemom era outro
sinal de que ele era verdadeiramente um homem arrependido. Assim, Paulo não
faria nada sem o consentimento de Filemom nesse assunto. A amabilidade e
sabedoria que ele usa ao se dirigir a Filemom são instrutivas; fornecem-nos um
padrão de graça Cristã ao lidar com assuntos interpessoais entre os santos.
Paulo não chegou ao ponto de pedir que
Onésimo fosse colocado em liberdade para que pudesse retornar ao seu lado no
serviço; ele deixou essa escolha inteiramente para Filemom. Ele não o
pressionou de maneira alguma. Se Filemom pretendia enviar Onésimo de volta a
Paulo, ele queria que esse “benefício” viesse de Filemom, e não fosse
algo feito “por força”, porque havia sido ordenado pelo apóstolo.
Vs. 15-16 – Paulo acrescenta: “Porque
bem pode ser que ele se tenha separado de
ti por algum tempo, para que o retivesses [o recebas – ARA] para sempre, não já como servo [escravo];
antes, mais do que servo [escravo], como irmão amado, particularmente de mim e quanto mais de ti,
assim na carne como no Senhor?” Ao sugerir que Onésimo talvez tenha partido
“por algum tempo”, ele sugeriu que tudo havia sido ordenado nos caminhos
providenciais de Deus e, portanto, tudo isso fazia parte do plano de Deus (Pv
16:33; Jr 10:23). O princípio por trás de tudo aqui é que, mesmo nas falhas e fracassos
dos homens, Deus pode tirar o bem do mal. Ele pode usar essas falhas e fracassos
para realizar Seu propósito na bênção dos homens (Sl 76:10).
Ele, portanto, pede a recepção de
Onésimo com base no perdão fraterno, já que agora era “um irmão amado”.
A breve perda de seu escravo estava sendo recompensada pelo ganho permanente de
um irmão! Filemom se beneficiaria dessa obra da graça em Onésimo de duas
maneiras: primeiro, “na carne” por ter seu servo de volta e, segundo,
“no Senhor” por ter um irmão no Senhor.
Ação de Graças e Oração de Paulo
Ação de Graças e Oração
de Paulo
Vs. 4-7 – Paulo agradeceu a Deus por Filemom
e orou por ele regularmente (v. 4). Ele queria que ele soubesse que apreciava
muito o “amor e a fé” que
tinha “para com o Senhor Jesus, e para com todos os santos” (v. 5 – TB).
Isso levou Filemom a ter “participação na fé” (v. 6 – JND). Ou seja, sendo um homem de recursos, ele ajudou na
difusão da verdade apoiando monetariamente os servos do Senhor. Dessa maneira,
ele foi um dos “participantes” na obra do Senhor (Fp 1:7). Com o amor e
fé sendo “eficazes” na vida de Filemom, como Paulo observa, ele foi
levado à realização de “todo o bem” nessas questões práticas (v. 6). Com
isso em mente, Paulo acrescenta: “Tive grande gozo e consolação da tua
caridade, porque por ti, ó irmão, as entranhas dos santos foram recreadas”
(v. 7). Isso mostra que o amor e a fé de Filemom não foram direcionados apenas
aos que estão na obra do Senhor, mas ele também não deixou de ajudar os santos
que tinham necessidades. Aprendemos com isso que ele era um homem muito
prático, e sua benevolência havia encontrado um meio para dar vazão a uma boa
causa entre o povo do Senhor.
Vemos grande sabedoria no preâmbulo
introdutório de Paulo aqui. Ele observa e elogia a bondade de Filemom antes de
prosseguir com seu pedido, que segue nos versículos 8-21. Seu raciocínio
diplomático é que, como Filemom costumava mostrar bondade com os santos, ele
certamente ficaria feliz em mostrar mais uma ação de amor Cristão – da qual
Paulo estava prestes a fazer um pedido.
A Saudação
A Saudação
Vs. 1-3 – Paulo começa chamando a si
mesmo de “prisioneiro de Cristo Jesus” (ARA). Ele não se vê como prisioneiro de Nero, o imperador
romano, mas como prisioneiro do Senhor (Ef 3:1, 4:1). Ao declarar isso, ele
estava se submetendo ao que o Senhor havia permitido que lhe acontecesse ao ser
levado em cativeiro. Ele reconheceu o que o Senhor lhe havia feito por Sua
providência divina e estava feliz por ser Seu prisioneiro, já que era essa a
vontade de Deus. A Igreja foi a beneficiária disso, pois foi durante seu
cativeiro que ele foi inspirado a escrever as chamadas “epístolas da prisão”
(Efésios, Filipenses, Colossenses), nas quais é divulgada a verdade do Mistério
de Cristo e a Igreja.
Ele inclui “Timóteo” na saudação
porque, embora endereçada a um indivíduo, a carta também tem a assembleia em
vista e, quando é assim, tudo deve ser feito pela boca de duas ou três
testemunhas (2 Co 13:1). Não é dito que Timóteo era prisioneiro como Paulo e
Epafras eram (v. 23), mas ele estava lá com Paulo ministrando a ele, e assim seu
nome é incluído.
A carta é endereçada a “Filemom”,
que era “cooperador” no evangelho, e sua esposa “Ápia”. “Arquipo”
também é mencionado e parece ter sido parte da família de Filemom; portanto,
alguns expositores sugerem que ele poderia ser filho deles. Mas não temos como
ter certeza disso; A Escritura não diz que ele era. Tudo o que sabemos dele é
que ele tinha um dom para ministrar a Palavra, ao que Paulo o encorajou a buscar
com diligência (Cl 4:17).
V. 3 – “Graça a vós e paz da parte de
Deus nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo”. Como regra, ao escrever para as assembleias, o apóstolo os
cumprimenta com “graça” e “paz”, mas quando escreve para
indivíduos, ele acrescenta uma terceira coisa: “misericórdia”. Isso
ocorre porque quando uma pessoa não se beneficia do suprimento de graça e paz
que Deus concede a Seus filhos, e falha no caminho da fé, há misericórdia para
ela, e assim pode ser restaurada. No entanto, quando se trata de
responsabilidade corporativa, onde o testemunho público da assembleia está em
vista, se ela falhar, que foi o que a Igreja fez, não há misericórdia. Assim,
não há menção na Escritura do testemunho público da Igreja sendo restaurado
depois que falhou; ela será posta de lado no julgamento quando os verdadeiros
crentes forem chamados para o céu na vinda do Senhor (Rm 11:17-24; Ap 3:16).
Como a misericórdia não está incluída aqui no versículo 3, como
geralmente ocorre quando se dirige a indivíduos, entendemos que a assembleia também
está em vista nesta carta, pois deveria ter interesse em como os problemas
interpessoais em seu meio são resolvidos. J. N. Darby disse: “O apóstolo, ao
enviar Onésimo de volta, se dirige a toda a assembleia. É por essa razão que
temos aqui “graça” e “paz”, sem a adição de “misericórdia”, como quando apenas os
indivíduos são dirigidos pelos apóstolos” (Synopsis of the Books of the
Bible, edição Loizeaux, vol. 5, pág. 260).
Filemom precisaria desse suprimento de “graça”
e “paz” para receber Onésimo adequadamente e falar com ele com um
espírito correto, para que tudo fosse tratado com honra. Paulo menciona essas
coisas antes mesmo de explicar a Filemom o propósito de ter escrito a carta.
A Escravidão Humana e o Cristianismo
A Escravidão Humana e o Cristianismo
O cenário e o contexto em que a epístola
foi escrita é o da escravidão humana. Essa injustiça social sempre foi
contrária aos pensamentos de Deus, mas Paulo não trata disso aqui porque o Cristianismo
não é uma força para melhorar o mundo. O Cristianismo não reforma o mundo; ele chama
as pessoas (crentes) para fora do mundo, por meio do evangelho e anuncia
o julgamento de Deus que virá em breve. O Cristianismo, como encontrado nas
epístolas do Novo Testamento, não tenta corrigir os males sociais do mundo.
Estamos “no mundo” (Jo 17:11), mas não somos “do mundo”
(Jo 17:14, 16). Como “peregrinos e forasteiros”, estamos apenas de passagem
por essa cena em nosso caminho para o céu, onde está nossa cidadania (1 Pe
2:11; Fp 3:20). Como tal, deixamos os homens do mundo lutarem entre si em suas
causas, e não temos nada a dizer sobre isso (Is 45:9). Se fôssemos do mundo,
nos envolveríamos em seus assuntos (Jo 18:36).
Alguns podem perguntar: “Se a escravidão
está errada, por que Paulo não clamou contra ela? Por que ele retornaria um
escravo ao seu mestre que havia escapado daquela escravidão terrível?” Como
afirmado, a resposta é que os Cristãos não são chamados a consertar o mundo.
Nosso trabalho é apresentar Cristo ao mundo em nossos caminhos e modos, e
pregar Cristo a toda criatura humana que pudermos para que elas sejam salvas (Cl
1:23). Se o Cristianismo fosse uma causa para mudar o mundo, esse certamente
seria o lugar para Paulo falar disso. Mas ele não tem nada a dizer a Filemom
sobre a escravidão. Ele não dá nenhuma orientação para libertar Onésimo de sua
posição na vida. De fato, o ensinamento de Paulo sobre esse assunto é: “Cada
um fique na vocação em que foi chamado. Foste chamado sendo servo? Não te dê cuidado; e, se ainda podes ser livre,
aproveita a ocasião” (1 Co 7:20-21). Isso não significa que ele aprovou a
escravidão, mas que essas coisas não são o foco do evangelho que ele foi
enviado para pregar.
Três Consequências Negativas Que Resultam da Falta de Perdão
Três Consequências
Negativas Que Resultam da Falta de Perdão
Nutrir um espírito implacável pode
resultar em algumas consequências terríveis em nossa vida que nenhuma pessoa
sóbria deseja:
Em primeiro lugar, magoamos a nós
mesmos. Ao remoer sobre o erro e nos recusar a perdoar alguém, ficamos
presos no passado. Tal ocupação apenas mantém viva a dor e nos torna miseráveis.
Meditando sobre isso, mantemos a ferida aberta e não permitimos que ela se cure.
Isso alimenta raiva, ressentimento e amargura em relação à pessoa que nos
ofendeu. O Senhor alertou sobre isso em uma parábola em Mateus 18:23-35. Ele
falou de um homem que foi muito perdoado por seu credor, mas quando foi
libertado de sua dívida, ele não perdoou seu companheiro que lhe devia uma
quantia insignificante. Quando seu senhor soube disso, ele ficou “indignado”
e “o entregou aos atormentadores, até que ele pagasse tudo o que devia”. Isso não significa que alguém com um
espírito implacável perde sua salvação e é enviado para uma eternidade perdida,
mas que ele é entregue ao seu espírito amargo que o atormenta continuamente.
Sempre que vê ou pensa na pessoa que o ofendeu, seu estômago se revira e sua
amargura e ressentimento o atormentam. Isso continuará até que ele finalmente
abra a mão e perdoe seu irmão de coração. Assim, mantendo um espírito
implacável para com alguém, nos machucamos (Pv 8:36). George Washington Carver
sabia disso e disse: “Nunca deixarei outro homem arruinar minha vida por me
permitir odiá-lo”.
Em segundo lugar, abrimos a porta
para Satanás trabalhar em nossa vida. Somos avisados para não dar oportunidade
a Satanás (Ef 4:27), pois ele certamente atacará qualquer crente que puder e o
desviará (1 Pe 5:8) – mas é exatamente isso que um espírito implacável faz.
Paulo disse aos coríntios: “E a quem perdoardes alguma coisa também eu; porque, o que eu
também perdoei, se é que tenho perdoado, por amor de vós o fiz na presença de Cristo; para que
não sejamos vencidos por Satanás; porque não ignoramos os seus ardis” (2 Co
2:10-11). Ele sabia que os santos de Corinto precisavam perdoar o ofensor
juntos, corporativamente (1 Co 5), porque se alguns deles o perdoassem e outros
não, Satanás aproveitaria a situação e causaria estragos na assembleia, criando
desunião. Paulo disse que seguiria o exemplo deles e perdoaria o homem quando eles
o perdoassem. Embora esse seja um assunto corporativo, é o mesmo em nossa vida
pessoal – não perdoar com sinceridade e verdade dará a Satanás uma oportunidade
de destruir nossa vida Cristã.
Em terceiro lugar, trazemos o
julgamento governamental de Deus sobre nós mesmos. O Senhor disse: “E,
quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para
que vosso Pai, que está nos
céus, vos perdoe as vossas ofensas. Mas, se vós não perdoardes, também vosso
Pai, que está nos céus, vos não
perdoará as vossas ofensas” (Mc 11:25-26). Deus não quer um espírito
implacável em Seus filhos e Se comprometerá a eliminá-lo por meio da sabedoria
de Seus caminhos disciplinares. Podemos ter certeza de que tudo o que Ele faz
em nossa vida a esse respeito é sempre feito em amor e para o nosso bem (Hb 12:5-11).
Ele pode nos permitir chegar a uma posição em que precisemos de Seu perdão
governamental, porque erramos de alguma maneira (Tg 3:2), e Ele, por um tempo,
não nos concederá Seu perdão. Assim, somos levados a sentir o mesmo espírito
que temos contra os outros e seremos ensinados, por Sua disciplina, que estamos
errados em como agimos com os outros. Não nos julgarmos a esse respeito é uma
coisa séria; isso pode prejudicar nossa comunhão com Deus. Podemos começar a
questionar a sabedoria de Seus caminhos conosco, e isso pode resultar em um
colapso em nossa fé e confiança em Deus (Lc 22:32).
O Valor Prático da Epístola
O Valor Prático da
Epístola
Como hoje a escravidão humana foi
proibida em todos os países da Terra, podemos estar inclinados a pensar que
essa epístola não tem relevância prática para nós. Podemos até nos perguntar
por que ela está incluída no cânon da Escritura. No entanto, os mesmos
elementos básicos envolvidos no problema que Paulo estava abordando ainda
surgem hoje entre o povo de Deus. O conselho e a sabedoria que Paulo aplicou a
essa situação pode ser tomado e aplicado às situações que possamos enfrentar.
As circunstâncias serão diferentes, mas os princípios envolvidos são
praticamente os mesmos.
Devido ao fato de os santos ainda terem
a carne, os problemas podem surgir em nossos relacionamentos pessoais. Pessoas
serão maltratadas, e ofensas serão acolhidas e resultarão em rupturas na
comunhão dos santos. Como foi o caso aqui, na maioria dos problemas
interpessoais haverá um ofensor e haverá uma parte ofendida; e muitas vezes,
haverá alguém que atuará como um pacificador para tentar ajudar as duas partes
a resolver o problema de uma maneira que honre o Senhor. Nesta situação,
Onésimo era o ofensor, e Filemom e sua esposa (Ápia) eram a parte ofendida, e
Paulo agia como o pacificador. Aprendemos com esse incidente que o ofensor
precisa confessar seu erro (Lc 17:4), e aqueles a quem ele ofendeu precisam
genuinamente perdoá-lo em seu coração (Mt 18:35). E o pacificador pode
encorajá-los a fazê-lo genuinamente. Assim, somos instruídos nesta curta
epístola a respeito de como a graça e o amor Cristãos resolvem problemas
sociais que surgem entre os santos para a glória do Senhor e para o bem de
todos os envolvidos.
J. N. Darby comentou: “A epístola serve
mais para produzir esses sentimentos no leitor mais do que ser o objeto da
explanação” (Synopsis of the Books of the Bible, edição Loizeaux, vol.
5, pág. 258). Assim, ao meditar no caminho que Paulo empreendeu para resolver o
problema que eles estavam enfrentando, o Espírito de Deus gera em nós o mesmo
espírito de amor e graça que encontraria um meio de se manifestar em nossos
irmãos. Portanto, esta epístola é muito aplicável a nós hoje.
A primeira lição prática que aprendemos
dessa situação é que as questões de ofensa pessoal entre irmãos devem ser
resolvidas o mais rápido possível. Se as rupturas na comunhão dos santos forem
deixadas sem solução, elas podem degradar e crescer, e outros podem ser
contaminados, por se envolver na situação (Hb 12:15). O inimigo de nossa alma
(Satanás) pode, e irá, usá-las para destruir uma assembleia.
O Ponto Relevante da Epístola - O Exercício do Perdão Pessoal
O Ponto Relevante da Epístola - O Exercício do Perdão Pessoal
Mesmo que os verbos “desculpar” e “perdoar”
não sejam encontrados na epístola, eles estão implícitos. O perdão pessoal é
claramente o assunto que o apóstolo tem diante de si. É extremamente elementar
para a vida Cristã e de grande importância; se não for praticado, a saúde e o
bem-estar da assembleia estarão ameaçados. Este é um assunto tão importante
para Deus que Ele dedicou uma epístola inteira a ele!
O perdão pessoal ou fraternal é baseado
no perdão eterno de Deus. Paulo disse: “Antes sede uns para com os outros
benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos
perdoou em Cristo” (Ef 4:32). Quando pensamos em quanto fomos perdoados e
quanto custou a Deus nos perdoar, não devemos ter problemas em perdoar os
outros. Onde estaríamos sem o perdão? Não estar disposto a perdoar alguém é
impensável. Como mencionado, perdoar um ao outro é um dos elementos mais
básicos da vida Cristã. É, de fato, uma das características do novo homem (Cl
3:13). Um Cristão que carece dessa graça evidencia que ele ou ela não
amadureceu espiritualmente. Quando Pedro perguntou ao Senhor quantas vezes
devemos perdoar nosso irmão, Ele respondeu: “Até setenta vezes sete” (Mt
18:22). Isso significa que nosso perdão deve ser infinito.
Um Testemunho do Poder de Deus no Evangelho
Um Testemunho do Poder de Deus no Evangelho
A epístola serve
como testemunho do fato de que Deus pode salvar pessoas de seus pecados e
transformar a vida deles. Foi a isso que Paulo se referiu quando disse: “Porque
não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação”
(Rm 1:16). Não precisamos ir além da história de Onésimo para ver isso. Ele é
um exemplo brilhante de uma verdadeira conversão. Antes havia sido um inútil escravo
que havia fugido, mas desde que acreditou no evangelho e passou da morte para a
vida, houve uma transformação completa em sua vida. Ele havia sido um pecador,
mas, atendendo ao chamado de Deus, tornou-se um santo – e sua vida
mostrou isso. Nada pode explicar essa radical mudança para o bem que não seja a
misericórdia soberana, o amor e a graça de Deus trabalhando nele (Ef 2:4-9). Os
santos tessalonicenses também foram um exemplo desse poder. Quando eles creram
no evangelho, houve uma mudança tão profunda neles que Paulo disse: “dos
ídolos vos convertestes a Deus, para servir o Deus vivo e verdadeiro; e esperar
do céu a Seu Filho” (1 Ts 1:9-10).
A Ocasião da Epístola
A Ocasião da Epístola
Pelo conteúdo da epístola, não é difícil
reunir as circunstâncias que levaram Paulo a escrever a carta. Filemom era um
chefe de família rico em Colossos, que havia sido grandemente ajudado por Paulo
– talvez tendo se convertido por meio dele (v. 19). Ao longo do tempo, o
escravo de Filemom (Onésimo) fugiu, aparentemente tendo-o roubado (v. 18). Pela
providência de Deus, o escravo fugitivo foi para Roma, onde conheceu Paulo e
foi genuinamente convertido (v. 10). A vida de Onésimo foi completamente
transformada pelo poder da graça de Deus e ele se tornou útil ao apóstolo em
seu confinamento. No entanto, a questão de Filemom ter sido prejudicado ainda
era relevante e, portanto, Paulo e Onésimo achavam que seria correto esclarecer
a questão com ele antes que qualquer outra consideração pudesse ser cogitada.
Como Paulo estava escrevendo sua epístola para a assembleia de Colossos na
época, e Filemom morava naquela mesma cidade (na verdade, a assembleia se
reunia em sua casa – v. 2), era o momento perfeito para enviar essa carta
pastoral e, esperançosamente, ter esta matéria esclarecida de uma maneira
divina.
A EPÍSTOLA DE PAULO A FILEMOM - INTRODUÇÃO
A EPÍSTOLA DE PAULO A FILEMOM
INTRODUÇÃO
Esta é uma das quatro epístolas
“pastorais” (1 e 2 Timóteo, Tito e Filemom) escritas pelo apóstolo Paulo. Essas
epístolas são chamadas de “pastorais” porque são dirigidas a indivíduos, e não
a assembleias – cada uma com caráter de pastoreio e aconselhamento. Essa
epístola, no entanto, é única entre as epístolas pastorais, na medida em que se
refere a um assunto puramente privado entre dois indivíduos. Assim, ela possui
um caráter distinto, demonstrando a graça e o amor Cristãos em ação em uma
circunstância da vida real. A epístola não contém nenhuma declaração de
doutrina; nem tem exortações gerais à vida Cristã; mas nos fornece um exemplo
inspirador da graça e amabilidade Cristãs.
Foi escrita na época em que Paulo redigiu
a epístola aos Colossenses e ambas foram levadas aos Colossenses por Tíquico e
Onésimo (Cl 4:7-9).
Conclusões
Conclusões
Vs. 12-15 – Paulo encerra a epístola com
algumas breves diretrizes sobre o trabalho. Ele planejava enviar “Ártemas”
ou “Tíquico” para aliviar Tito em Creta, para que Tito pudesse estar
livre para encontrá-lo em “Nicópolis” (oeste da Grécia). Parece, a
partir de 2 Timóteo 4:12, que Tíquico foi enviado a Éfeso, e não a Creta, o que
significa que provavelmente foi Ártemas quem foi a Creta (v. 12).
V. 13 – Aparentemente, “Zenas, doutor
da lei, e Apolo”, deveriam visitar a ilha. Paulo incentivou Tito a
ajudá-los “com diligência” (KJV)
em seu ministério. Zenas era um doutor da lei judeu que havia sido convertido.
Ele seria de grande ajuda para Tito, refutando o elemento judaizante que estava
incomodando os santos ali. Zenas era perfeitamente adequado para lidar com suas
disputas sobre os detalhes da Lei. Pode ser a razão pela qual ele e Apolo foram
para lá.
V. 14 – Paulo faz uma última exortação
sobre a necessidade de boas obras. Ele diz: “E os nossos aprendam também a
aplicar-se às boas obras, nas coisas necessárias, para que não sejam
infrutuosos”. Paulo insistiu
em “boas obras” muitas vezes nesta epístola; sua importância não pode
ser minimizada – especialmente na situação que existia em Creta. Os cretenses,
outrora preguiçosos, deveriam ser diligentes em mudar sua imagem pública na
ilha realizando boas obras; isso ajudaria a reverter o testemunho negativo que
eles tinham lá. Paulo acrescenta: “nas coisas necessárias”. Isso mostra
que os Cristãos podem ser encontrados realizando algum trabalho ou serviço na
vida secular que não é realmente necessário para a vida na Terra. Como regra,
nosso emprego secular deve ser em algo que não seja de um caráter duvidoso e
questionável.
V. 15 – Sua saudação final mostra a
necessidade de um amor genuíno ser expresso entre os santos – especialmente
quando eles enfrentam a fria perseguição do mundo, que está por toda parte.
Todos nós precisamos desse tipo de encorajamento.
A Responsabilidade do Cristão em Relação aos Mestres Falsos e Cismáticos
A Responsabilidade do Cristão em Relação aos Mestres
Falsos e Cismáticos
Vs. 9-11 – Paulo
sabia que afirmar a verdade, como havia ordenado que Tito fizesse, certamente
encontraria resistência dos mestres judaizantes que estavam lá em Creta (cap.
1:10). Antecipando isso, ele deu a Tito alguns conselhos simples, mas
importantes. Ele diz: “Mas não entres em questões loucas,
genealogias e contendas, e nos debates acerca da lei; porque são cousas inúteis
e vãs”. Os mestres judaizantes amam discutir questões
religiosas relacionadas à Lei, mas Tito devia ter o cuidado de não se envolver
nessas discussões. Ele deveria evitar tudo o que era de natureza controversa em
seu ministério; isso apenas o estragaria.
Paulo supõe que poderia haver alguém que
iria ficar tão ocupado com estas questões inúteis que iria se tornar o líder de
um partido que se organizaria em torno dessa causa. Essa pessoa manifestaria um espírito divisivo e deveria ser evitada. Paulo
alertou os santos romanos sobre isso: “E rogo-vos, irmãos, que noteis os
que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes;
desviai-vos deles. Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus
Cristo, mas ao seu ventre: e com suaves palavras e lisonjas enganam os corações
dos símplices [ingênuos – JND]” (Rm 16:17-18). Nota: não é “noteis os que seguem
em divisões”, mas aqueles que “promovem”
divisões. Isso significa que devemos distinguir entre os líderes e os liderados
quando um espírito de partido surge na assembleia. Se o líder do partido não se
julgar, suas agitações levarão a uma divisão externa na assembleia, onde ele e
seu partido se afastarão da comunhão dos santos e se reunirão em outros
lugares. Ao causar uma separação externa, o homem provará ser um “herege”,
que significa “um criador de uma seita”.
Muitos pensam que a heresia é sustentar
ou propor má doutrina, provavelmente porque a maioria dos hereges sustentam má
doutrina (2 Pe 2:1). Tornou-se convencionalmente aceito como tal na maioria dos
círculos religiosos. No entanto, heresia realmente se refere à divisão dos
santos. Sendo iludido, um herege acreditará que o que ele está fazendo é certo
e bom e para a glória do Senhor – mas é claramente uma obra da carne (Gl 5:20).
Uma “dissenção” é uma divisão interna entre os santos – uma partição
(“cismas” 1 Co 11:18 – KJV margem). Enquanto uma “heresia” é uma
divisão externa de santos que se separam e começam algo novo (“seitas” 1 Co 11:19 – KJV margem). Um cisma,
se não é julgado, se tornará uma seita. Paulo diz a Tito: “Ao homem herege,
depois de uma e outra admoestação, evita-o; Sabendo que esse tal está
pervertido, e peca, estando já em si mesmo condenado” (vs. 10-11). Paulo
não diz para a assembleia colocá-lo fora de comunhão, porque ele, por seu
próprio ato de levar seu partido a se separar da assembleia, já está fora. Se
Tito se deparasse com uma pessoa que liderou uma separação, ele deveria “adverti-lo”
uma e outra vez. Depois disso, ele deveria “evitá-lo”, porque ele está “pervertido”.
Um Resumo do que o Cristianismo Faz para Aqueles que Creem no Evangelho
Um Resumo do que o
Cristianismo Faz para Aqueles que Creem no Evangelho
Vs. 4-9 – Paulo dá outro belo resumo do
que o Cristianismo faz pela pessoa que crê no evangelho. Ele diz: “Mas
quando apareceu a benignidade e caridade de Deus, nosso Salvador, para com os
homens, não pelas obras de justiça que houvéssemos
feito, mas, segundo a Sua misericórdia, nos salvou pela
lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, que abundantemente Ele derramou sobre nós por Jesus
Cristo nosso Salvador; para que, sendo justificados pela Sua graça, sejamos
feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna”. Como mencionado, o mundo deve ver no Cristão o que o
evangelho pode fazer por uma pessoa. Em suma, quando crido, o evangelho não
apenas livra uma pessoa do julgamento de seus pecados, mas também transforma
sua vida de ruim para boa e a torna uma pessoa verdadeiramente feliz por ter
sido trazida a um relacionamento vivo com Deus.
Paulo começa este resumo com a
intervenção da “bondade e amor de Deus” aparecendo “para com os homens”.
Isso se refere à vinda de Cristo para afastar o pecado pelo sacrifício de Si
mesmo (Hb 9:26). Sem isso, não poderia haver bênção para ninguém, pois a
questão do pecado tinha que ser resolvida primeiro. Paulo não entra nisso aqui,
nem fala de fé e obediência do crente ao evangelho que são necessárias para a
salvação. A razão é que ele está se concentrando nos benefícios positivos da
salvação que Deus dá aos que creem.
Ao enfatizar esse lado das coisas, Paulo
deixa claro que a salvação que Deus garantiu ao homem não é conquistada por
nenhum mérito do crente. Ele diz: “não pelas obras de justiça que
houvéssemos feito, mas, segundo a Sua misericórdia, nos salvou”. Assim, a “misericórdia”, “amor”
e “graça” de Deus que agiu para nos salvar não é algo que tivemos de trabalhar
para conseguir; “é dom de Deus” (Ef 2:4-5, 8). O crente, portanto, não
pode ter o crédito por sua salvação; “não vem das obras, para que ninguém se
glorie” (Ef 2:9; Rm 4:4-5).
Paulo então acrescenta: “pela lavagem
da regeneração e da renovação do Espírito Santo”. Isso se refere a um novo
estado moral formado pelo Espírito no crente. Isso se manifestará em uma
mudança externa em sua vida, e isso será algo que as pessoas verão. W. Scott
confirmou isso, afirmando: “A lavagem da regeneração pode ser discernida pelo olho
humano, pois é uma mudança externa” (Doctrinal Summaries, pág. 28).
Essa “lavagem” externa da vida de
alguém é ilustrada no batismo. O novo convertido deixa seus pertences (cigarros,
garrafas de bebidas alcoólicas, revistas mundanas etc.) na beira da água e
entra nela. Depois de ser batizado, ele segue seu caminho com os Cristãos que
participaram do batismo. Mas alguém o chama e diz: “Ei João, você esqueceu suas
coisas”. Ele responde: “Deixe-as lá; elas pertencem ao velho João”. Assim, o
efeito prático da lavagem da regeneração é que haverá uma separação moral (e,
portanto, uma limpeza) do antigo estilo de vida em que a pessoa outrora vivia.
As pessoas do mundo vão observá-lo e dizer: “Ele limpou sua vida; ele está agora
no caminho direito e estreito!” A “renovação” do Espírito Santo, “que
abundantemente Ele (Deus) derramou sobre nós”, é mencionada aqui
porque é o Espírito que energiza a nova vida e nos permite viver uma vida
divina de acordo com a vontade de Deus. A renovação do Espírito é uma obra
ainda em curso no crente, enquanto o Espírito derramado sobre nós é a
recepção permanente do Espírito ao crer no evangelho (Rm 5:5). F. B.
Hole disse: “Ele foi ‘derramado’ sobre nós em abundância. Assim concedido, Ele
energiza a nova vida que temos agora e trabalha uma renovação diária dentro de
nós, que realiza uma salvação contínua e crescente da vida antiga que uma vez vivemos”
(Epistles, vol. 2, pág. 190).
Paulo menciona “a lavagem da regeneração”
em conexão com ser “salvo”. Isso ocorre porque a mudança moral deve ser
parte integrante da salvação de uma pessoa; as duas coisas andam juntas. Deus
não pretende que creiamos no evangelho e, assim, sejamos libertados do
julgamento eterno de nossos pecados, para então continuarmos praticando os
mesmos pecados pelos quais Cristo morreu para deles nos libertar! Toda essa
conduta é hipocrisia e levanta uma questão sobre se essa pessoa foi realmente
salva. Paulo enfatiza esse lado das coisas para Tito porque ele precisava
insistir nisso em seu ministério em Creta, pois faltava muito disso entre os
santos de lá.
O único outro lugar na Escritura onde a
palavra “regeneração” ocorre é Mateus 19:28. Nessa passagem, refere-se à
nova ordem moral externa das coisas que será estabelecida na Terra quando
Cristo reinar em Seu reino milenar. Nesse dia vindouro, todos os homens viverão
de acordo com os santos padrões de Deus (Sl 101:7-8; Zc 5:1-4). Enquanto esse
dia ainda não chega, os Cristãos hoje devem manifestar a lavagem da regeneração
em sua vida.
Não obstante, os Cristãos de todas as
escolas de ensino teológico entenderam mal a regeneração. Eles acham que, como
a palavra “regenerar” significa recomeçar, está se referindo a nascer de novo
e, portanto, eles usam os termos de forma intercambiável. No entanto, J. N.
Darby disse: “Regeneração não é a mesma palavra que ‘nascer de novo’, nem é
usada dessa forma na Escritura” (nota de rodapé da sua tradução em Tito 3:5).
F. B. Hole disse: “Devemos notar que a palavra “regeneração” em nosso versículo
não é exatamente o equivalente ao novo nascimento” (Epistles, vol. 2, pág.
190). W. Scott disse: “Novo nascimento não é o mesmo que regeneração; o último
termo só ocorre duas vezes no Novo Testamento (Tt 3:5; Mt 19:28). O primeiro
termo refere-se a um trabalho interior; o último a uma mudança externa” (The
Young Christian, vol. 2, pág. 131). W. Scott também disse: “A regeneração é
quase universalmente considerada como equivalente ao novo nascimento, mas não é
assim na Escritura. A regeneração é uma condição ou estado objetivo,
enquanto o novo nascimento é a expressão de um estado interno e subjetivo”
(Bible Handbook – Old Testament, pág.
372).
Tanto novo nascimento quanto regeneração
se referem a um novo começo na vida de uma pessoa, mas são dois começos
diferentes. O novo nascimento, que ocorre primeiro na história de uma
pessoa, é um novo começo interior na alma ao receber uma nova vida de
Deus. Uma evidência disso será vista em sua busca por Deus. A regeneração
é um novo começo externo da vida de um crente, resultante de ele ter
sido salvo e ter recebido o Espírito Santo. Novo nascimento e regeneração
envolvem um “banho”, que significa lavagem ou limpeza. O banho envolvido
no novo nascimento significa uma lavagem interior da alma ao receber uma
nova vida limpa de Deus (Jo 13:10 – AIBB; 1 Co 6:11), enquanto o “banho”
na regeneração significa um lavagem externa da vida da pessoa em um
sentido prático (Tt 3:5 – nota de rodapé da tradução J. N. Darby[1]).
V. 7 – Paulo
passa da obra de Deus em nós para a obra de Deus para nós. Ele
diz: “sendo
justificados pela Sua graça, sejamos feitos herdeiros segundo a esperança da
vida eterna2”. Não poderíamos nos tornar herdeiros de Deus meramente pela obra do
Espírito em nós; também devemos ser justificados por Sua graça, pela qual somos
colocados em nossa plena posição Cristã diante de Deus “em Cristo” – que
é o que justificação faz (Gl 2:17). Assim, Deus nos salvou e nos justificou, e,
assim, fomos feitos “herdeiros” da herança – a qual abrange toda coisa
criada (Rm 8:17; 1 Co 3:22; Gl 4:7; Ef 1:11, 14). E não é só isso, temos a “esperança”
(uma certeza adiada) da vida eterna. Temos essa vida agora como uma possessão presente,
mas devemos esperar para ser levados para casa no céu para tê-la em nosso
estado glorificado, da qual Paulo fala aqui.
V. 8 – Ele
conclui com: “Fiel
é a palavra, e isto quero que deveras afirmes [insista vigorosamente – JND], para que os que creem em Deus
procurem [sejam cuidadosos em diligentemente – JND] aplicar-se às
boas obras; estas coisas são boas e proveitosas aos homens”. Assim, Tito deveria insistir no exercício prático da
verdade na vida dos santos em um caráter piedoso, e isso seria visto em suas “boas
obras”.
[1] N. do T.: “‘Lavagem’ está correto aqui. É um banho
ou a água para ele. ‘Regeneração’ não é a mesma palavra para ‘nascido de novo’
e nem é usada assim na Escritura. A força da palavra é de uma mudança de
posição; um novo estado de coisas. A palavra é apenas usada aqui e em
Mateus19:28 em relação ao reino vindouro do Salvador”.
A Responsabilidade do Cristão em Relação às Pessoas do Mundo
A Responsabilidade do Cristão
em Relação às Pessoas do Mundo
Vs. 2-3 – Paulo então fala da conduta do
Cristão em relação a amigos, vizinhos e conhecidos incrédulos no mundo. Ele
diz: “que a ninguém infamem, nem sejam
contenciosos, mas moderados, mostrando toda a mansidão para com todos os homens”
(AIBB). Isso mostra que é importante manter um espírito gracioso para com as
pessoas perdidas deste mundo, para que eles possam ver o Cristianismo em ação em
nós e, por meio de nosso comportamento piedoso, possamos obter oportunidades de
lhes pregar o evangelho. Ser contencioso com nossos semelhantes dificilmente é
o caminho para conquistá-los para Cristo. Manifestar um espírito correto para
com os incrédulos não deve ser difícil quando lembramos que já fomos como eles
antes de sermos salvos. Por isso, Paulo acrescenta: “Porque também nós
éramos noutro tempo insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias
concupiscências e deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos, odiando-nos
uns aos outros”. Todo Cristão deve poder dizer sinceramente: “se não fosse
a graça de Deus, aquela pessoa pecadora poderia ser eu!”. Uma percepção dessa
graça divina que nos foi mostrada deve nos dar paciência para com todos os
homens, e um genuíno amor e piedade por eles.
A Responsabilidade do Cristão em Relação às Autoridades
A Responsabilidade do
Cristão em Relação às Autoridades
V. 1 – Paulo diz: “Adverte-lhes que estejam sujeitos aos governadores e autoridades, que
sejam obedientes, e estejam preparados para toda boa obra” (AIBB). Julgamos
por essa exortação e pela descrição de seu caráter no capítulo 1:12, que os
santos de Creta não foram cuidadosos com isso e foram desrespeitosos e
insubordinados às autoridades romanas que estavam sobre eles. Tito deveria tratar
esse problema e corrigi-lo imediatamente. O dever do Cristão em relação ao
governo (“os poderes que existem”
– Rm 13:1) sob o qual ele vive é: orar, pagar e obedecer.
Devemos orar pelos governantes no cargo (1 Tm 2:1-2), pagar nossos impostos (Rm
13:6-7) e obedecer a todas as ordenanças legais (1 Pe 2:13). Isso deve ser
feito para que nosso testemunho do evangelho não seja prejudicado por má
conduta. Aqueles que olham para nós não devem nos ver como rebeldes às
autoridades governamentais, mas pessoas cumpridoras da lei, que têm o que o
mundo precisa[1].
Ao abordar esse assunto, Paulo não diz a
Tito que os santos de Creta se envolvam na política do mundo ou se envolvam em
causas de reforma social, porque, como Cristãos, não somos chamados para tornar
esse mundo um lugar melhor. O Cristão entende que o mundo é incorrigivelmente
corrupto e está piorando a cada dia e, portanto, está sob a sentença do
julgamento de Deus, que será executada em breve no segundo advento de Cristo.
Portanto, gastar nossa energia na tentativa de melhorar as condições aqui seria
semelhante a reorganizar as cadeiras que reclinavam no convés do Titanic
enquanto ele afundava! Os Cristãos que se envolvem na tentativa de consertar o
mundo apenas ficam contaminados e frustrados, e inevitavelmente falham em seu
objetivo. Ló é mencionado na Escritura para nos ensinar que o crente não pode
consertar o mundo, envolvendo-se em seus assuntos políticos (Gn 19). Tentar
reformar o mundo reflete um equívoco básico do chamado do Cristão e o caráter
incorrigível da natureza caída no homem. O dever do Cristão em relação aos
poderes estabelecidos é que “estejam preparados para toda boa obra”, que
deve ser compatível com os governos sob os quais ele vive.
Obviamente, existem limites para nossa
obediência às autoridades governamentais sobre nós. Se eles nos mandarem fazer
algo moral e eticamente errado, devemos antes “obedecer a Deus do que aos
homens” (At 5:29). Contudo, o objetivo das autoridades geralmente é restringir
o mal e incentivar o bem (Rm 13:2-4).
[1]
N. do T.: Isto é, o mesmo espírito que havia em Cristo de Se submeter às
autoridades que estavam sobre Ele, dando a César o que era de César e a Deus o
que era de Deus.
VERDADE E PIEDADE DIANTE DO MUNDO - Capítulo 3
VERDADE E PIEDADE DIANTE DO MUNDO
Capítulo 3
Neste último capítulo, Paulo segue
adiante para abordar o testemunho do Cristão perante o mundo. Aprendemos com
suas observações aqui que a sã doutrina e a vida piedosa não são coisas válidas
apenas para nossa vida em assembleia, mas elas devem ser vistas em nós enquanto
caminhamos por este mundo. É a intenção de Deus que nossa vida exiba Seu poder
de transformar pecadores em santos. As pessoas deste mundo devem ver o que a
bondade e o amor de Deus podem fazer por eles. Infelizmente, essa mudança moral
que acompanha a salvação de nossa alma estava faltando nos santos de Creta, e
isso prejudicou muito o testemunho público deles diante do mundo (Compare Romanos
2:24). Paulo aborda essa questão no capítulo 3, concentrando-se em duas
esferas em particular: a responsabilidade do crente em relação às autoridades
e a responsabilidade do crente em suas interações sociais com
pessoas deste mundo.
Três Grandes Motivadores para uma Vida Piedosa
Três Grandes Motivadores para uma Vida Piedosa
Vs. 11-15 – Relacionado à palavra “Porque”
do versículo. 11, Paulo traz três grandes motivadores para a vida piedosa:
- O ensino da graça de Deus (vs. 11-12).
- A iminência da vinda do Senhor (v. 13).
- O grande preço que o Senhor pagou para nos redimir da vida de pecado (v. 14).
Esses motivadores da vida piedosa são
enfatizados aqui pelo apóstolo, porque era o que faltava aos santos de Creta.
Eles foram verdadeiramente convertidos, mas havia pouco ou nenhum
arrependimento em relação aos seus velhos hábitos.
O ENSINO DA GRAÇA (vs. 11-12)
Tendo
mencionado “a doutrina de Deus, nosso Salvador” (v. 10), Paulo amplia o
que há nesses próximos versículos. Ele diz: “Porque a graça de Deus se há
manifestado, trazendo salvação a todos os homens. Ensinando-nos que,
renunciando [tendo rejeitado – JND]
à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente”.
Esta é uma declaração abrangente de o que é o Cristianismo e o que ele faz para
aqueles que creem no evangelho. Deus em graça tornou a salvação disponível para
todos os homens por meio do envio de Seu Filho ao mundo. Aqueles que O recebem
por fé são ensinados a negar a impiedade e as concupiscências mundanas e a
viver uma vida santa neste presente século mau.
“A graça de Deus” é o nosso
grande professor aqui. A graça é a concessão de favor imerecido a beneficiários
que não o merecem. Isso é exatamente o que Deus fez pela raça humana. Pela
bondade e amor de Seu coração, Ele encontrou um caminho por meio da morte de
Seu Filho para trazer “salvação” ao homem. Aqueles que creem no Senhor
Jesus Cristo e O recebem como seu Salvador são assim libertados da justa punição
de seus pecados. Desse modo, somos instruídos, por esse ato de favor divino, sobre
o que Deus pensa do pecado – ele odeia com ódio divino! É abominável para Sua
natureza santa. Ele, portanto, certamente não quer que continuemos praticando o
pecado. O crente é levado a se perguntar: “Como posso continuar fazendo essas
coisas que Deus odeia e me salvou delas?” Essa lógica simples levará todo
crente sóbrio a renunciar à sua vida anterior entregue “à impiedade e às
concupiscências mundanas” para que agora “vivamos neste presente século sóbria, e
justa, e piamente” O verbo “renunciar” está no tempo aoristo do grego,
indicando que essa renúncia à antiga vida do crente deve ser uma coisa feita de
uma vez por todas. A tradução de J. N. Darby enfatiza isso ao traduzir o verbo como
“tendo renunciado”. Assim, a graça de Deus se manifestou para
todos os homens, mas apenas ensina aqueles que recebem a salvação que
ela traz.
A IMINÊNCIA DA VINDA DO
SENHOR (v. 13)
Paulo
menciona a vinda do Senhor. Isso também nos motivará a viver piedosamente. Ele
diz: “Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da
glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo”. Essa “bem-aventurada
esperança e o aparecimento da glória” são eventos escatológicos[1]
que estão para ocorrer. São as duas partes da segunda vinda do Senhor. A bem-aventurada esperança é o Arrebatamento,
quando o Senhor vier para levar Seus santos ao céu (Jo 14:2-3; 1 Ts 4:15-18).
Isso ocorrerá antes do período de 7 anos da tribulação. O Aparecimento
da glória é a revelação pública de Cristo com Seus santos perante o mundo após
a grande tribulação (Zc 14:5; 1 Ts 3:13; Jd 14). Nessa ocasião, Ele “com
justiça há de julgar o mundo” (At 17:31) e estabelecerá Seu reino milenar
(Ap 11:15). Para um Cristão, essas coisas são muito mais que meros eventos
proféticos. O Arrebatamento ocorrerá quando Cristo, nosso “Noivo”, vier
nos levar daqui para a casa do Pai (Mt 25:6; Jo 14:2-3), momento em que
estaremos formalmente unidos a Ele nas “bodas do Cordeiro” (Ap 19:7-10).
Isso gera afeições nupciais em nosso coração (Ap 22:17). O apóstolo João nos
diz que ter essa esperança de estar com Ele e ser como Ele nos faz querer nos purificar
“como também Ele é puro” (1 Jo 3:3). Assim, se a iminência da vinda do
Senhor para nós for mantida corretamente em nosso coração, afetará nossa vida
praticamente e nos motivará a viver piedosamente – pois nenhum Cristão sóbrio
quer ser encontrado fazendo algo duvidoso quando o Senhor vier nos chamar ao
lar (Lc 12:35-40).
A Aparição de Cristo também é mencionada,
porque, quando entendida adequadamente, também terá um efeito prático em nossa
vida. A Aparição de Cristo é o momento em que os resultados de nossa vida serão
exibidos diante do mundo na forma de recompensas. É perfeitamente possível
perdermos uma recompensa por termos vivido descuidadamente (Ap 3:11) e,
portanto, poderíamos ficar, diante d’Ele, “envergonhados na Sua vinda”
(1 Jo 2:28 – ARA). Esse fato nos motiva a viver de uma maneira que alcance a
aprovação do Senhor naquele dia (2 Co 5:9). Assim, ambos os aspectos de Sua
vinda são colocados diante de nós como motivação para viver uma vida piedosa.
Alguns pensam que a bem-aventurada esperança (o Arrebatamento)
e a Aparição de Cristo são um e o mesmo evento. Essa é uma doutrina errônea que
existe há muitos séculos. Faz parte da Teologia Reformada (do Pacto). Em apoio
a isso, muitas versões modernas traduzem esse versículo 13 como sendo um
evento. Seu raciocínio para fazer isso é baseado em uma regra na gramática
grega. A regra é que, quando existem dois substantivos conectados pela
conjunção “e”, se o primeiro substantivo tiver o artigo “o”, mas o segundo não,
então o segundo substantivo se refere à mesma coisa que o primeiro e é uma
descrição adicional disso. Como esse versículo tem apenas um “o” em conexão com
a bem-aventurada esperança e a gloriosa Aparição, alguns tradutores e
estudantes da Bíblia concluíram que estão se referindo à mesma coisa.
W. Kelly abordou esse assunto, mostrando
que há exceções a essa regra. As seguintes observações são retiradas de The
Bible Treasury, vol. 3, pág. 32: “Pergunta: Uma nota incorreta
indaga se essa ‘bem-aventurada esperança’ é equivalente ou distinta de ‘o
aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo’. Resposta:
Eu entendo que a forma da frase em grego (um artigo para os dois substantivos
conectados) não os identifica necessariamente, mas apenas os une em uma classe
comum. Compare 2 Tessalonicenses 2:1, onde a mesma construção ocorre. No
entanto, ninguém sustentaria que ‘vinda de nosso Senhor Jesus Cristo’ é
a mesma coisa que ‘nossa reunião com Ele’. Devem ser consideradas,
penso, como juntamente associadas na mente do Espírito Santo, embora em si
mesmas sejam assuntos distintos. Pode ajudar alguns a entender melhor Tito
2:13, se eles tiverem em mente que o verdadeiro sentido é “o aparecimento da
glória” – em contraste com
a graça que já apareceu (“se há manifestado”
– v. 11). Essa “bem-aventurada esperança” me parece ainda mais próxima e
mais pessoal para o coração”. Portanto, há exceções a essa regra na gramática
grega que exigem discernimento de nossa parte sobre onde e quando elas se
aplicam. Como sabemos de outras passagens que o Arrebatamento e a Aparição de
Cristo são eventos distintos, segue-se logicamente que seria assim aqui em Tito
2:13.
F. B. Hole disse: “Pode ser que, pela ‘bem-aventurada
esperança’, o apóstolo tenha indicado a vinda do Senhor para Seus santos,
da qual ele escreve aos tessalonicenses em sua primeira epístola (cap. 4:15-17),
e se assim for, temos ambas, a Sua vinda para e a Sua vinda com os
Seus santos, diante de nós como nossa esperança no versículo 13” (Epistles,
vol. 2, pág. 189). Assim, “graça” apareceu no primeiro advento de Cristo
(v. 11) e “glória” ainda está para aparecer no Seu segundo advento (v.
13).
O GRANDE PREÇO QUE O
SENHOR PAGOU PARA NOS REDIMIR (v. 14)
Paulo
passa a dar talvez o maior de todos os motivadores para uma vida piedosa – o
preço extraordinário que o Senhor pagou para nos redimir. Ele diz: “O qual Se
deu a Si mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade [ausência de lei – JND], e
purificar para Si um povo Seu especial, zeloso de boas obras”. O que
mais o Senhor poderia ter dado para nos salvar do que dar a “Si mesmo?”
Esse fato é mencionado pelo menos dez vezes na Escritura (Mt 20:28; Gl 1:4,
2:20; Ef 5:2, 25; 1 Tm 2:6; Tt 2:14; Hb 7:27, 9:14, 26). Que sacrifício! É a
mente de Deus que isso produza resposta em nós. Quando reservamos um tempo para
considerar o quanto custou ao Senhor nos redimir – a agonia de Seus sofrimentos
expiatórios – responderemos com apreciação e gratidão, e isso se evidenciará em
devoção de coração a Ele. Isso criará em nós um desejo de agradá-Lo e fazer
algo por Ele por causa do que Ele fez por nós. Como o salmista, perguntaremos: “Que
darei eu ao Senhor por todos os Seus benefícios para comigo?” (Sl 116:12 –
ARA) Sabendo que Deus odeia o pecado, o crente de coração correto será
exercitado para abandonar toda “rebeldia” (JND) e começará a aperfeiçoar a santidade em sua vida (2 Co 7:1;
1 Tm 4:7).
Paulo prossegue dizendo que é intenção
de Deus que os Cristãos sejam Seu povo “especial, zeloso de boas obras”.
Isso mostra que o objetivo do Cristianismo não é criar um vácuo na vida das
pessoas; a rebeldia deve ser substituída pela vida piedosa manifestada na
realização de boas obras. Isso mostra que aqueles que são os destinatários da
graça salvadora de Deus devem ser louvados por sua conduta.
V. 15 – O capítulo termina com uma
reafirmação das responsabilidades de Tito. Paulo diz; “Fala disto, e exorta
e repreende com toda a autoridade”. Há uma ordem moral aqui. Primeiro, Tito deveria “falar”
das coisas que convém a um comportamento Cristão, mas se isso não fosse
recebido, ele deveria “exortar” os santos a respeito dessas coisas. Isso
implica em usar mais força. Se ainda não estava sendo recebido, então Tito
deveria “repreender” com “toda a autoridade”, pois ele fora
comissionado com autoridade apostólica para insistir nessas coisas.
Quanto à conduta de Tito, Paulo disse: “Ninguém
te despreze”. Ele deveria
ter o cuidado de andar de maneira correta em todas as coisas, para que ninguém
tivesse uma justa causa para desconsiderar seu ministério.
[1] N. do T.: A escatologia é o estudo do destino final
do homem e do mundo. A palavra é formada a partir de dois termos gregos éskhatos, que significa “extremo” ou
“último” e logos, que significa
“palavra” ou “estudo”.
OS SERVOS (vs. 9-15)
OS SERVOS (vs. 9-15)
Paulo inclui uma palavra para os
empregados domésticos. Ele diz a Tito: “Exorta os servos a que se sujeitem a
seus senhores, e em tudo agradem, não contradizendo; não defraudando [furtando]; antes, mostrando toda a
boa lealdade, para que, em tudo, sejam ornamento da doutrina de Deus, nosso
Salvador”. Esses servos eram escravos. Como escravos Cristãos,
eles deveriam prestar testemunho de Cristo por meio de seu comportamento,
enquanto trabalhavam para seus senhores terrenos. Se eles se comportassem de
maneira piedosa, estando sujeitos a seus senhores e agradando-os bem – “não
contradizendo” ou “furtando” – esses servos “adornariam a
doutrina de Deus nosso Salvador em todas as coisas”. Assim, o lado prático
da verdade do Cristianismo seria visto em ação e seria um poderoso testemunho prestado
para o Senhor. A conduta piedosa embeleza a doutrina que defendemos.
É interessante e instrutivo o modo como
Paulo trata o assunto da escravidão em suas epístolas (Ef 6:5-9; Cl 3:22-25; 1 Tm
6:1-2). É algo que Deus nunca pretendeu para o homem; foi introduzido por
homens perversos visando ganho por meios desonestos. No entanto, ao escrever para
os escravos Cristãos, Paulo não os incentiva a que se esforcem em se livrar dessa
situação. Em vez disso, ele diz a eles como se comportar nessa situação em que
se encontram, para que o testemunho da graça de Deus no evangelho seja promovido.
Isso ocorre porque o Cristianismo não é uma força para corrigir injustiças
sociais no mundo; esse não é o objetivo do evangelho. Quando o Senhor veio em
Sua primeira vinda, Ele não tentou reformar o mundo retificando seus erros
sociais e políticos. Ele fará tudo isso no dia vindouro, quando intervier no
julgamento em Sua Aparição. Então, tudo que estiver errado neste mundo será
corrigido (Is 40:3-5). Consequentemente, os Cristãos não foram chamados para
consertar o mundo, mas para esperar pelo dia vindouro. Devemos deixar o mundo
como está e anunciar o evangelho que chama homens para fora dele para ir ao
céu. Portanto, não há instrução nas epístolas para que os Cristãos consertem os
erros da escravidão – ou qualquer outra injustiça social no mundo. Isso ocorre
porque estamos “no” mundo, mas não somos “do” mundo (Jo 17:14). O
Senhor disse que, se Seu reino fosse “deste mundo”, Seus servos lutariam
por essas causas (Jo 18:36). Mas, como não somos deste mundo, deixemos “o
caco entre outros cacos de barro” (Is 45:9).
Paulo sabia o quanto era importante para
os Cristãos manter um bom testemunho diante do mundo. Sua grande preocupação
com os escravos Cristãos era que eles se comportassem de maneira correta, para
que “o nome de Deus e a doutrina” não fossem “blasfemados” (1 Tm
6:1). Esses escravos crentes não deveriam fugir (como Onésimo fez antes de ser
salvo – Fm 15), mas permanecer em sua posição na vida e glorificar a Deus
diante de seus senhores, tratando-os com respeito genuíno, e “não servindo
só na aparência, como para agradar aos homens”. Se servissem com “simplicidade de coração, temendo a Deus”,
seriam um poderoso testemunho da realidade da fé que tinham em Cristo (Cl
3:22). Assim, eles deveriam trabalhar para seus senhores “de todo o coração,
como ao Senhor”, pois, na realidade, estavam servindo a “Cristo, o Senhor”
(Cl 3:23-24). Isso mostra que, independentemente de onde o crente se posicione
quanto a sua situação na sociedade, ele ainda tem uma oportunidade de
testemunhar por Cristo. Não podemos todos ser missionários, mas todos podemos
compartilhar o evangelho com aqueles com quem interagimos em nossa vida diária
e, assim, servir ao Senhor dessa maneira.
OS JOVENS (vs. 6-8)
OS JOVENS (vs. 6-8)
Paulo passa a dar uma palavra aos rapazes.
Ele diz: “Exorta semelhantemente os mancebos a que sejam moderados. Em tudo
te dá por exemplo de boas obras; na doutrina mostra incorrupção, gravidade, sinceridade, linguagem sã e
irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que
dizer de nós”. Ao
incluir Tito em seus comentários aos homens mais jovens, mostra que Tito também
era um irmão mais novo – embora provavelmente não seja tão jovem quanto
Timóteo. Tito deveria ensinar os rapazes por meio de exemplo, mostrando-se como
um “exemplo”.
Os jovens deveriam ser “moderados”,
o que tem a ver com o bom senso em todas as coisas – tanto espirituais quanto
naturais.
Eles também deveriam mostrar “incorrupção”
na doutrina. Ser sólido na doutrina requer diligência, acompanhando vários
assuntos da Escritura com um estudo cuidadoso (1 Tm 4:6; 2 Tm 2:15).
Eles também deveriam ser marcados pela “gravidade”.
A chocarrice[1]
não teria lugar na vida deles se esperassem que os santos os levassem a sério.
Por fim, quanto ao seu discurso, eles deveriam
falar em linguagem “sã”, para que aqueles que se opusessem à verdade não
tivessem motivo para condená-los.
[1]
N. do T.: “Chocarrices” (Ef 5:4) é a
tradução da palavra grega “morologia”
que significa divertir alguém com gracejos, expondo outros a desprezo – “o bobo
da corte”. Efésios 5:4 também menciona “parvoíces”
(“eutrapelia”) que significa
brincadeiras vulgares e obscenas.
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