Três Grandes Motivadores para uma Vida Piedosa
Vs. 11-15 – Relacionado à palavra “Porque”
do versículo. 11, Paulo traz três grandes motivadores para a vida piedosa:
- O ensino da
graça de Deus (vs. 11-12).
- A iminência da
vinda do Senhor (v. 13).
- O grande preço
que o Senhor pagou para nos redimir da vida de pecado (v. 14).
Esses motivadores da vida piedosa são
enfatizados aqui pelo apóstolo, porque era o que faltava aos santos de Creta.
Eles foram verdadeiramente convertidos, mas havia pouco ou nenhum
arrependimento em relação aos seus velhos hábitos.
O ENSINO DA GRAÇA (vs. 11-12)
Tendo
mencionado “a doutrina de Deus, nosso Salvador” (v. 10), Paulo amplia o
que há nesses próximos versículos. Ele diz: “Porque a graça de Deus se há
manifestado, trazendo salvação a todos os homens. Ensinando-nos que,
renunciando [tendo rejeitado – JND]
à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente”.
Esta é uma declaração abrangente de o que é o Cristianismo e o que ele faz para
aqueles que creem no evangelho. Deus em graça tornou a salvação disponível para
todos os homens por meio do envio de Seu Filho ao mundo. Aqueles que O recebem
por fé são ensinados a negar a impiedade e as concupiscências mundanas e a
viver uma vida santa neste presente século mau.
“A graça de Deus” é o nosso
grande professor aqui. A graça é a concessão de favor imerecido a beneficiários
que não o merecem. Isso é exatamente o que Deus fez pela raça humana. Pela
bondade e amor de Seu coração, Ele encontrou um caminho por meio da morte de
Seu Filho para trazer “salvação” ao homem. Aqueles que creem no Senhor
Jesus Cristo e O recebem como seu Salvador são assim libertados da justa punição
de seus pecados. Desse modo, somos instruídos, por esse ato de favor divino, sobre
o que Deus pensa do pecado – ele odeia com ódio divino! É abominável para Sua
natureza santa. Ele, portanto, certamente não quer que continuemos praticando o
pecado. O crente é levado a se perguntar: “Como posso continuar fazendo essas
coisas que Deus odeia e me salvou delas?” Essa lógica simples levará todo
crente sóbrio a renunciar à sua vida anterior entregue “à impiedade e às
concupiscências mundanas” para que agora “vivamos neste presente século sóbria, e
justa, e piamente” O verbo “renunciar” está no tempo aoristo do grego,
indicando que essa renúncia à antiga vida do crente deve ser uma coisa feita de
uma vez por todas. A tradução de J. N. Darby enfatiza isso ao traduzir o verbo como
“tendo renunciado”. Assim, a graça de Deus se manifestou para
todos os homens, mas apenas ensina aqueles que recebem a salvação que
ela traz.
A IMINÊNCIA DA VINDA DO
SENHOR (v. 13)
Paulo
menciona a vinda do Senhor. Isso também nos motivará a viver piedosamente. Ele
diz: “Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da
glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo”. Essa “bem-aventurada
esperança e o aparecimento da glória” são eventos escatológicos
que estão para ocorrer. São as duas partes da segunda vinda do Senhor. A bem-aventurada esperança é o Arrebatamento,
quando o Senhor vier para levar Seus santos ao céu (Jo 14:2-3; 1 Ts 4:15-18).
Isso ocorrerá antes do período de 7 anos da tribulação. O Aparecimento
da glória é a revelação pública de Cristo com Seus santos perante o mundo após
a grande tribulação (Zc 14:5; 1 Ts 3:13; Jd 14). Nessa ocasião, Ele “com
justiça há de julgar o mundo” (At 17:31) e estabelecerá Seu reino milenar
(Ap 11:15). Para um Cristão, essas coisas são muito mais que meros eventos
proféticos. O Arrebatamento ocorrerá quando Cristo, nosso “Noivo”, vier
nos levar daqui para a casa do Pai (Mt 25:6; Jo 14:2-3), momento em que
estaremos formalmente unidos a Ele nas “bodas do Cordeiro” (Ap 19:7-10).
Isso gera afeições nupciais em nosso coração (Ap 22:17). O apóstolo João nos
diz que ter essa esperança de estar com Ele e ser como Ele nos faz querer nos purificar
“como também Ele é puro” (1 Jo 3:3). Assim, se a iminência da vinda do
Senhor para nós for mantida corretamente em nosso coração, afetará nossa vida
praticamente e nos motivará a viver piedosamente – pois nenhum Cristão sóbrio
quer ser encontrado fazendo algo duvidoso quando o Senhor vier nos chamar ao
lar (Lc 12:35-40).
A Aparição de Cristo também é mencionada,
porque, quando entendida adequadamente, também terá um efeito prático em nossa
vida. A Aparição de Cristo é o momento em que os resultados de nossa vida serão
exibidos diante do mundo na forma de recompensas. É perfeitamente possível
perdermos uma recompensa por termos vivido descuidadamente (Ap 3:11) e,
portanto, poderíamos ficar, diante d’Ele, “envergonhados na Sua vinda”
(1 Jo 2:28 – ARA). Esse fato nos motiva a viver de uma maneira que alcance a
aprovação do Senhor naquele dia (2 Co 5:9). Assim, ambos os aspectos de Sua
vinda são colocados diante de nós como motivação para viver uma vida piedosa.
Alguns pensam que a bem-aventurada esperança (o Arrebatamento)
e a Aparição de Cristo são um e o mesmo evento. Essa é uma doutrina errônea que
existe há muitos séculos. Faz parte da Teologia Reformada (do Pacto). Em apoio
a isso, muitas versões modernas traduzem esse versículo 13 como sendo um
evento. Seu raciocínio para fazer isso é baseado em uma regra na gramática
grega. A regra é que, quando existem dois substantivos conectados pela
conjunção “e”, se o primeiro substantivo tiver o artigo “o”, mas o segundo não,
então o segundo substantivo se refere à mesma coisa que o primeiro e é uma
descrição adicional disso. Como esse versículo tem apenas um “o” em conexão com
a bem-aventurada esperança e a gloriosa Aparição, alguns tradutores e
estudantes da Bíblia concluíram que estão se referindo à mesma coisa.
W. Kelly abordou esse assunto, mostrando
que há exceções a essa regra. As seguintes observações são retiradas de The
Bible Treasury, vol. 3, pág. 32: “Pergunta: Uma nota incorreta
indaga se essa ‘bem-aventurada esperança’ é equivalente ou distinta de ‘o
aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo’. Resposta:
Eu entendo que a forma da frase em grego (um artigo para os dois substantivos
conectados) não os identifica necessariamente, mas apenas os une em uma classe
comum. Compare 2 Tessalonicenses 2:1, onde a mesma construção ocorre. No
entanto, ninguém sustentaria que ‘vinda de nosso Senhor Jesus Cristo’ é
a mesma coisa que ‘nossa reunião com Ele’. Devem ser consideradas,
penso, como juntamente associadas na mente do Espírito Santo, embora em si
mesmas sejam assuntos distintos. Pode ajudar alguns a entender melhor Tito
2:13, se eles tiverem em mente que o verdadeiro sentido é “o aparecimento da
glória” – em contraste com
a graça que já apareceu (“se há manifestado”
– v. 11). Essa “bem-aventurada esperança” me parece ainda mais próxima e
mais pessoal para o coração”. Portanto, há exceções a essa regra na gramática
grega que exigem discernimento de nossa parte sobre onde e quando elas se
aplicam. Como sabemos de outras passagens que o Arrebatamento e a Aparição de
Cristo são eventos distintos, segue-se logicamente que seria assim aqui em Tito
2:13.
F. B. Hole disse: “Pode ser que, pela ‘bem-aventurada
esperança’, o apóstolo tenha indicado a vinda do Senhor para Seus santos,
da qual ele escreve aos tessalonicenses em sua primeira epístola (cap. 4:15-17),
e se assim for, temos ambas, a Sua vinda para e a Sua vinda com os
Seus santos, diante de nós como nossa esperança no versículo 13” (Epistles,
vol. 2, pág. 189). Assim, “graça” apareceu no primeiro advento de Cristo
(v. 11) e “glória” ainda está para aparecer no Seu segundo advento (v.
13).
O GRANDE PREÇO QUE O
SENHOR PAGOU PARA NOS REDIMIR (v. 14)
Paulo
passa a dar talvez o maior de todos os motivadores para uma vida piedosa – o
preço extraordinário que o Senhor pagou para nos redimir. Ele diz: “O qual Se
deu a Si mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade [ausência de lei – JND], e
purificar para Si um povo Seu especial, zeloso de boas obras”. O que
mais o Senhor poderia ter dado para nos salvar do que dar a “Si mesmo?”
Esse fato é mencionado pelo menos dez vezes na Escritura (Mt 20:28; Gl 1:4,
2:20; Ef 5:2, 25; 1 Tm 2:6; Tt 2:14; Hb 7:27, 9:14, 26). Que sacrifício! É a
mente de Deus que isso produza resposta em nós. Quando reservamos um tempo para
considerar o quanto custou ao Senhor nos redimir – a agonia de Seus sofrimentos
expiatórios – responderemos com apreciação e gratidão, e isso se evidenciará em
devoção de coração a Ele. Isso criará em nós um desejo de agradá-Lo e fazer
algo por Ele por causa do que Ele fez por nós. Como o salmista, perguntaremos: “Que
darei eu ao Senhor por todos os Seus benefícios para comigo?” (Sl 116:12 –
ARA) Sabendo que Deus odeia o pecado, o crente de coração correto será
exercitado para abandonar toda “rebeldia” (JND) e começará a aperfeiçoar a santidade em sua vida (2 Co 7:1;
1 Tm 4:7).
Paulo prossegue dizendo que é intenção
de Deus que os Cristãos sejam Seu povo “especial, zeloso de boas obras”.
Isso mostra que o objetivo do Cristianismo não é criar um vácuo na vida das
pessoas; a rebeldia deve ser substituída pela vida piedosa manifestada na
realização de boas obras. Isso mostra que aqueles que são os destinatários da
graça salvadora de Deus devem ser louvados por sua conduta.
V. 15 – O capítulo termina com uma
reafirmação das responsabilidades de Tito. Paulo diz; “Fala disto, e exorta
e repreende com toda a autoridade”. Há uma ordem moral aqui. Primeiro, Tito deveria “falar”
das coisas que convém a um comportamento Cristão, mas se isso não fosse
recebido, ele deveria “exortar” os santos a respeito dessas coisas. Isso
implica em usar mais força. Se ainda não estava sendo recebido, então Tito
deveria “repreender” com “toda a autoridade”, pois ele fora
comissionado com autoridade apostólica para insistir nessas coisas.
Quanto à conduta de Tito, Paulo disse: “Ninguém
te despreze”. Ele deveria
ter o cuidado de andar de maneira correta em todas as coisas, para que ninguém
tivesse uma justa causa para desconsiderar seu ministério.
[1] N. do T.: A escatologia é o estudo do destino final
do homem e do mundo. A palavra é formada a partir de dois termos gregos éskhatos, que significa “extremo” ou
“último” e logos, que significa
“palavra” ou “estudo”.