OS SERVOS (vs. 9-15)
Paulo inclui uma palavra para os
empregados domésticos. Ele diz a Tito: “Exorta os servos a que se sujeitem a
seus senhores, e em tudo agradem, não contradizendo; não defraudando [furtando]; antes, mostrando toda a
boa lealdade, para que, em tudo, sejam ornamento da doutrina de Deus, nosso
Salvador”. Esses servos eram escravos. Como escravos Cristãos,
eles deveriam prestar testemunho de Cristo por meio de seu comportamento,
enquanto trabalhavam para seus senhores terrenos. Se eles se comportassem de
maneira piedosa, estando sujeitos a seus senhores e agradando-os bem – “não
contradizendo” ou “furtando” – esses servos “adornariam a
doutrina de Deus nosso Salvador em todas as coisas”. Assim, o lado prático
da verdade do Cristianismo seria visto em ação e seria um poderoso testemunho prestado
para o Senhor. A conduta piedosa embeleza a doutrina que defendemos.
É interessante e instrutivo o modo como
Paulo trata o assunto da escravidão em suas epístolas (Ef 6:5-9; Cl 3:22-25; 1 Tm
6:1-2). É algo que Deus nunca pretendeu para o homem; foi introduzido por
homens perversos visando ganho por meios desonestos. No entanto, ao escrever para
os escravos Cristãos, Paulo não os incentiva a que se esforcem em se livrar dessa
situação. Em vez disso, ele diz a eles como se comportar nessa situação em que
se encontram, para que o testemunho da graça de Deus no evangelho seja promovido.
Isso ocorre porque o Cristianismo não é uma força para corrigir injustiças
sociais no mundo; esse não é o objetivo do evangelho. Quando o Senhor veio em
Sua primeira vinda, Ele não tentou reformar o mundo retificando seus erros
sociais e políticos. Ele fará tudo isso no dia vindouro, quando intervier no
julgamento em Sua Aparição. Então, tudo que estiver errado neste mundo será
corrigido (Is 40:3-5). Consequentemente, os Cristãos não foram chamados para
consertar o mundo, mas para esperar pelo dia vindouro. Devemos deixar o mundo
como está e anunciar o evangelho que chama homens para fora dele para ir ao
céu. Portanto, não há instrução nas epístolas para que os Cristãos consertem os
erros da escravidão – ou qualquer outra injustiça social no mundo. Isso ocorre
porque estamos “no” mundo, mas não somos “do” mundo (Jo 17:14). O
Senhor disse que, se Seu reino fosse “deste mundo”, Seus servos lutariam
por essas causas (Jo 18:36). Mas, como não somos deste mundo, deixemos “o
caco entre outros cacos de barro” (Is 45:9).
Paulo sabia o quanto era importante para
os Cristãos manter um bom testemunho diante do mundo. Sua grande preocupação
com os escravos Cristãos era que eles se comportassem de maneira correta, para
que “o nome de Deus e a doutrina” não fossem “blasfemados” (1 Tm
6:1). Esses escravos crentes não deveriam fugir (como Onésimo fez antes de ser
salvo – Fm 15), mas permanecer em sua posição na vida e glorificar a Deus
diante de seus senhores, tratando-os com respeito genuíno, e “não servindo
só na aparência, como para agradar aos homens”. Se servissem com “simplicidade de coração, temendo a Deus”,
seriam um poderoso testemunho da realidade da fé que tinham em Cristo (Cl
3:22). Assim, eles deveriam trabalhar para seus senhores “de todo o coração,
como ao Senhor”, pois, na realidade, estavam servindo a “Cristo, o Senhor”
(Cl 3:23-24). Isso mostra que, independentemente de onde o crente se posicione
quanto a sua situação na sociedade, ele ainda tem uma oportunidade de
testemunhar por Cristo. Não podemos todos ser missionários, mas todos podemos
compartilhar o evangelho com aqueles com quem interagimos em nossa vida diária
e, assim, servir ao Senhor dessa maneira.
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